Entre o copo meio cheio e o copo meio vazio, o cruzeirense deve enxergar o copo transbordando
A verdade é que o torcedor do Cruzeiro, neste fim de temporada, está vivendo aquele misto de alegria e leve frustração. A alegria de quem voltou a ser protagonista no futebol brasileiro. A frustração de quem sente que, sim, dava para ter levado esse Brasileirão.
Mas sejamos honestos: depois do empate com o Juventude, as esperanças de título ficaram remotas. Um time que sonha com o topo da tabela não pode entrar tão desligado, mesmo com desfalques. Foi um jogo em que o Cruzeiro pareceu esquecer o que o trouxe até aqui: a intensidade, a atenção e o senso coletivo. Tomar três gols de um adversário que luta contra o rebaixamento é o tipo de vacilo que separa o campeão do quase. E, no Brasileirão, o “quase” custa caro.
Quem, lá atrás, em janeiro, imaginaria o Cruzeiro brigando com Flamengo e Palmeiras até as últimas rodadas? O cenário era outro. O clube ainda se refazia das trocas no comando técnico, da herança de uma equipe desorganizada e de um elenco cheio de “laranjas podres” que Leonardo Jardim precisou descascar com calma e coragem.
E o Mister chegou mudando tudo. O Trem Azul, que estava descarrilado, voltou a correr nos trilhos. Desde a estreia com vitória de virada sobre o Mirassol, aquele jogo que muita gente desdenhou, já dava pra sentir que o “jardinismo” tinha encontrado um terreno fértil em Belo Horizonte.
Hoje, o Cruzeiro é um time maduro, com identidade, competitivo e que sabe o que quer. É um time que não precisa da bola o tempo todo pra dominar um jogo. O Cruzeiro aprendeu a jogar sem se desesperar. E isso, num campeonato longo e traiçoeiro como o Brasileirão, é meio caminho andado.
Mesmo assim, é impossível não pensar no “E se?”. E se o Cruzeiro não tivesse deixado escapar pontos em casa contra Ceará, Santos e Sport? E se o juiz não tivesse inventado aquele pênalti contra o Inter? E se o VAR não tivesse anulado o gol do Kaio Jorge no Mineirão? Só nesses “E ses” o Cruzeiro perdeu uns 12 pontos, fácil. Pontos que hoje fariam diferença entre o sonho e a taça.
A arbitragem também não ajudou. Pelo contrário, atrapalhou, e muito. Teve expulsão injusta de Jonathan Jesus contra o Inter e de Eduardo contra o Vitória. Teve pênalti em Fabrício Bruno não marcado no clássico, e vermelho poupado pra Júnior Alonso. Contra o Santos, um gol legítimo foi anulado por um suposto empurrão de Matheus Pereira. Contra o Mirassol, um pênalti claro ignorado. E quem viu o jogo contra o Palmeiras sabe que Fabrício Bruno foi expulso num lance que o atacante rival tropeçou nas próprias pernas.
Mas o torcedor do Cruzeiro aprendeu a olhar pra frente. Entre o copo meio cheio e o copo meio vazio, o cruzeirense deve enxergar o copo transbordando. Porque hoje há motivos de sobra pra acreditar.
O Cruzeiro tem um grande treinador, um grupo unido e disciplinado, uma base que começa a ganhar espaço, e um dono que é, antes de tudo, um apaixonado pelo clube. Pedrinho vem demonstrando que é possível fazer gestão com emoção, mas também com método. E as contratações para o próximo ano mostram um projeto que segue evoluindo, com reforços pontuais e ideias para quebrar a retranca dos adversários que já aprenderam a respeitar (e temer) o Cabuloso.
Claro que todo cruzeirense queria o título. E se ele viesse, seria do jeito que o futebol gosta muito de proporcionar: dramático, com emoção, decidido na última rodada. Mas, como não deve vir, que a taça vá pra outro, e a gente possa focar de corpo e alma na Copa do Brasil, essa velha conhecida que o Cruzeiro domina como ninguém.
Um hepta da Copa do Brasil coroaria o ano não como “reconstrução”, mas como redenção. Seria a reafirmação para o Brasil inteiro de que o Cruzeirão Cabuloso, terror do eixo, voltou. Voltou competitivo, voltou organizado, voltou grande.
E se o título brasileiro escorrer pelos dedos, paciência. O importante é que o torcedor pode, enfim, voltar a olhar pro campo e dizer com orgulho: “Esse é o meu Cruzeiro.”