A França estabeleceu uma posição firme em relação ao acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, exigindo cláusulas de salvaguarda específicas antes de sua assinatura. O anúncio foi feito pelo ministro francês para Assuntos Europeus, Benjamin Haddad, em entrevista ao Journal du Dimanche (JDD).
A principal preocupação francesa está centrada na proteção de seus agricultores contra possíveis impactos negativos do acordo comercial. O setor agrícola francês teme uma potencial inundação do mercado com produtos como carne, açúcar e arroz provenientes dos países do Mercosul – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
“Queremos que essa cláusula seja adotada e reconhecida pelos países do Mercosul antes da assinatura de qualquer acordo”, afirmou Haddad durante a entrevista. O ministro também ressaltou que a França está “avaliando” se as garantias propostas “protegeriam efetivamente o setor agrícola de perturbações no mercado”.
O acordo, que foi assinado no final de 2024 e adotado pela Comissão Europeia em setembro de 2025, ainda necessita da ratificação dos 27 Estados-membros da UE para entrar em vigor. A Comissão Europeia busca obter a aprovação dos Estados europeus antes do final de dezembro, período que coincide com a presidência rotativa do Mercosul exercida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os termos do acordo preveem benefícios mútuos: a UE poderia exportar mais carros, máquinas e bebidas alcoólicas para os países do Mercosul, enquanto estes teriam facilidades para exportar produtos agrícolas como carne, açúcar, arroz, mel e soja para a Europa.
Para amenizar as preocupações dos países mais resistentes, como a França, a Comissão propôs em setembro cláusulas de salvaguarda “reforçadas”. Estas seriam acionadas em caso de aumento significativo das importações ou queda nos preços, além de um “monitoramento reforçado” para “produtos sensíveis”. Adicionalmente, a França solicita um mecanismo para fortalecer os controles sanitários.
O principal objetivo do governo francês, segundo o ministro, é proteger seus agricultores “da concorrência desleal”, evidenciando a necessidade de garantias sólidas antes de qualquer compromisso definitivo com o acordo.