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A guerra civil que assola Cartum, capital do Sudão, desde abril de 2023, transformou a cidade em um cenário de devastação humanitária sem precedentes. O conflito entre o exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF) deixou um rastro de destruição, afetando principalmente crianças e famílias vulneráveis.
O Hospital Bashaer, um dos últimos em funcionamento na capital, retrata o drama vivido pela população. A sala de desnutrição está repleta de crianças debilitadas, muitas delas sem força para chorar ou reagir. Entre os casos mais dramáticos está o de Touma, de 25 anos, mãe de gêmeas que precisou fazer uma escolha impossível: qual das filhas receberia o tratamento necessário, já que não tinha recursos para medicar ambas.
* A guerra forçou milhares de famílias a abandonarem suas casas, como no caso de Touma, que perdeu todos os seus pertences para as RSF e fugiu apenas com a roupa do corpo
* Segundo dados da ONU, três milhões de crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição aguda no país
* O Hospital Bashaer oferece atendimento básico gratuito, mas medicamentos vitais precisam ser pagos pelas famílias
* Muitas crianças perderam acesso à educação, com escolas destruídas e convertidas em abrigos
* Zaher, 12 anos, perdeu as duas pernas em um ataque de drone enquanto vendia lentilhas nas ruas com sua mãe
* Ahmed, 16 anos, trabalha limpando escombros para sustentar a família e perdeu contato com seis irmãos durante o conflito
* Professores voluntários improvisam salas de aula em casas abandonadas, tentando manter viva a esperança através da educação
A antiga Cartum, que já foi um próspero centro cultural e comercial às margens do rio Nilo, hoje está irreconhecível. Tanques ocupam as ruas, aviões de combate sobrevoam a cidade e civis ficam presos em meio ao fogo cruzado. O conflito entre o general Abdel Fattah al-Burhan, chefe do exército, e Mohamed Hamdan Dagalo, líder das RSF, transformou bairros inteiros em campos de batalha.
O impacto psicológico nas crianças é devastador. A professora Amal, com 45 anos de experiência, relata que nunca viu alunos tão traumatizados, usando vocabulário violento e demonstrando comportamentos agressivos. A escassez de alimentos agrava ainda mais a situação, com muitas famílias sem acesso a itens básicos como pão, farinha e leite.
Mesmo em meio ao caos, algumas crianças conseguem encontrar momentos de alegria, como Zaher, que mesmo sem suas pernas, continua jogando futebol com os amigos, sonhando com próteses que lhe permitiriam voltar a andar e frequentar a escola normalmente.
A situação em Cartum permanece crítica, com hospitais sobrecarregados, famílias deslocadas e uma geração de crianças profundamente marcada pela violência e privação. A guerra civil não apenas destruiu a infraestrutura da cidade, mas também roubou a infância de milhares de jovens sudaneses.
