A Bolívia testemunhou uma virada histórica em suas eleições presidenciais, com dois candidatos de direita avançando para o segundo turno, marcando o fim de duas décadas de governos de esquerda. Rodrigo Paz, senador de centro-direita, emergiu como a surpresa do pleito ao liderar com 32,1% dos votos, seguido pelo ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, com 26,8%.
Com 92% das urnas apuradas, os resultados preliminares do Tribunal Supremo Eleitoral confirmam uma mudança significativa no cenário político boliviano, que foi dominado pelo Movimento Ao Socialismo (MAS) nos últimos 20 anos.
Principais pontos do processo eleitoral:
* Rodrigo Paz, 57 anos, filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, superou todas as previsões eleitorais. O senador de Tarija, nascido na Espanha e criado no exílio devido à perseguição política de seus pais, conquistou uma vitória expressiva que não havia sido antecipada por nenhuma pesquisa.
* Jorge “Tuto” Quiroga, 65 anos, garantiu sua vaga no segundo turno com 26,8% dos votos, ultrapassando Samuel Doria Medina, que era favorito nas pesquisas e terminou com 19,85% dos votos.
* O pleito ocorreu em meio à pior crise econômica das últimas décadas na Bolívia, com escassez de dólares, combustíveis e produtos básicos, além de uma inflação anual próxima a 25%, a mais alta em 17 anos.
Paz celebrou o resultado diante de seus apoiadores em La Paz, declarando: “Além do MAS, quero parabenizar o povo boliviano, porque disse: quero mudar, e este é um sinal de mudança”. Seu plano de governo inclui o corte de “gastos supérfluos” do Estado, combate à corrupção e a implementação de um salário universal para mulheres.
Por sua vez, Quiroga enfatizou seu compromisso com a estabilização econômica, afirmando: “A crise não vai diminuir. Vai piorar, vai ficar mais dura, mais difícil. É o maior desafio institucional, econômico, moral da nossa história. E vamos enfrentar todos juntos”.
O cenário político foi marcado pela ausência de Evo Morales, primeiro presidente indígena da Bolívia, que governou entre 2006 e 2019. Impedido de concorrer por decisão judicial que proibiu a reeleição por mais de uma vez, Morales enfrenta uma ordem de prisão e fez campanha pelo voto nulo, que alcançou 19,2% do total.
O segundo turno está marcado para 19 de outubro, quando os bolivianos escolherão entre Paz e Quiroga, em uma disputa inédita que consolidará a mudança no direcionamento político do país após duas décadas de governos de esquerda.