A Petrobras está considerando um possível retorno ao mercado de varejo de combustíveis, uma decisão que está gerando preocupação entre analistas e especialistas do setor. O Conselho de Administração da companhia deve avaliar a inclusão dessa estratégia no Plano de Negócios 2026-2030.
Segundo informações apuradas, a estatal pretende retornar ao setor através de um projeto greenfield, começando do zero, similar ao que foi feito décadas atrás com a criação da BR Distribuidora. O objetivo declarado não seria controlar preços, mas garantir que as reduções de preços nas refinarias cheguem ao consumidor final.
* Especialistas consideram o movimento arriscado tanto do ponto de vista de negócios quanto de governança. Rodrigo Glatt, sócio da GTI Administração de Recursos, afirma que “É um business de capital intensivo e de retornos muito mais baixos do que os investimentos que ela tem em exploração de petróleo, que é onde ela devia focar”.
* O mercado já possui players consolidados como Ultrapar, Cosan e Vibra, antiga BR Distribuidora, que foi privatizada entre os governos Temer e Bolsonaro. O contrato de uso da marca Petrobras pela Vibra vence em 2029 e não deve ser renovado.
* Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, alerta que a medida pode gerar pressão negativa sobre o segmento de distribuição: “Me parece que, se a estatal assumir postos, será ruim para todo o setor, ao criar distorção difícil de reverter”.
A decisão surge em um contexto onde, mesmo após a Petrobras ter reduzido o preço da gasolina em 5,6% no início de junho, os postos de abastecimento mantiveram seus preços praticamente inalterados, gerando insatisfação no governo atual.
A Ativa Investimentos ressalta que a medida pode ser prejudicial tanto para a estatal quanto para a Vibra no longo prazo, questionando a capacidade de execução sob uma nova gestão da Petrobras. Analistas destacam que desenvolver uma nova rede de postos demandaria tempo significativo e alto investimento em um mercado já saturado.
O movimento também levanta questões sobre maior intervenção estatal no setor, embora alguns analistas apontem que medidas mais drásticas ainda não foram implementadas devido à dependência do governo em relação aos dividendos da empresa para as contas públicas.