O Censo 2022 do IBGE revelou uma desaceleração inédita no crescimento dos evangélicos no Brasil, refletindo uma série de fatores sociais e políticos que têm impactado essa denominação religiosa nas últimas décadas.
Segundo Ana Carolina Evangelista, diretora-executiva do Instituto de Estudos da Religião (ISER), o fenômeno pode ser atribuído a múltiplos fatores, incluindo a insatisfação de jovens, a reação da Igreja Católica e o desgaste causado pela forte presença política nas igrejas evangélicas.
“Temos identificado, a partir de indícios em pesquisas qualitativas e observação empírica, que começa a existir uma espécie de desgaste de um tipo de cristianismo entre os próprios evangélicos”, explica Evangelista.
“Há um excesso de política nas igrejas e nos púlpitos evangélicos que faz com que algumas pessoas não se reconheçam mais em suas lideranças religiosas, seja pelo perfil delas ou pelas pautas que elas têm defendido publicamente, e que acabam excluindo seus próprios membros.”
A pesquisadora destaca que, apesar da desaceleração, os evangélicos continuam sendo o grupo religioso de maior crescimento no país. O avanço, que era de 6 pontos percentuais, passou para 5,2 pontos neste último censo, uma redução pequena mas significativa.
A forte presença dos evangélicos na política, cultura e debate público brasileiro nos últimos anos criou uma expectativa de crescimento vertiginoso que não se confirmou nos números do Censo. Evangelista ressalta que a maior visibilidade política não se traduz automaticamente em aumento de fiéis.
O cenário atual também reflete uma maior diversidade religiosa no Brasil, com crescimento significativo das religiões de matriz africana e do número de pessoas que se declaram sem religião. Este panorama mais plural sugere uma sociedade com maior liberdade de escolha religiosa.
A cientista política avalia que, embora a desaceleração do crescimento evangélico não deva alterar significativamente o cenário político brasileiro, pode levar a uma recalibração do debate público, que tem supervalorizado o peso desse segmento religioso na sociedade.
“Vejo algumas correções de rumo em como o debate público, a mídia, os analistas políticos vão começar a olhar e correlacionar o campo religioso com o campo político brasileiro, por exemplo. Quase uma calibragem de rota”, conclui Evangelista.