Nova série de comédia do Prime Video aborda a descoberta da sexualidade, performance social e a força da amizade
Muito Esforçado (Overcompensating, no título original), nova série do Prime Video, tem conquistado a crítica e a audiência mundo afora. Criada e estrelada por Benito Skinner, a comédia é um coming of age besteirol que acerta ao tratar de assuntos importantes para a juventude com um humor certeiro – apesar de absurdo.
Inspirada em eventos da própria vida do criador e ator principal, Muito Esforçado acompanha Benny (Benito Skinner). Ele não só foi jogador de futebol americano no ensino médio, mas encarna o que seria um modelo padrão da heteronormatividade. Ao entrar na faculdade, ele se vê diante de um dilema: continuar representando o que os outros esperam ou assumir ou se assumir LGBT? E mais — ele tem certeza de que é mesmo gay?
Com essa premissa, Muito Esforçado foca na performance e na pressão social enfrentada por jovens universitários. Somos apresentados a personagens que, por motivos diferentes do de Benny, também estão na luta de construir uma “boa reputação”. Entre eles está Carmen (Wally Baram), também caloura da faculdade de Yates que na primeira noite acaba se envolvendo com o personagem principal. Após uma série de confusões, os dois viram grandes amigos e se unem nesta aventura de descoberta.
A série foi produzida pela Amazon MGM Studios em parceria com a A24, estúdio responsável por sucessos como Ex Machina, Lady Bird, A Bruxa e Projeto Flórida.
Muito Esforçado conta ainda com Charlie XCX como produtora executiva e responsável pela trilha sonora do programa. A cantora ainda fez uma participação especial em um dos episódios.
Estereótipos e comédia do absurdo
Seguindo a linha da comédia do absurdo, Muito Esforçado coloca os personagens em situações constrangedoras – ironicamente – ao tentarem evitar passar vergonha. A série atualiza, agora sob o ponto de vista de um jovem LGBT, a fórmula das comédias dos anos 2000 como American Pie e Não É Mais um Besteirol Americano.
O roteiro brinca com estereótipos de masculinidade, como a obsessão com O Poderoso Chefão, e satiriza as relações entre homens hetero. Eles simulam situações sexuais, batem na bunda uns dos outros e até demonstram carinho entre eles – sempre reforçando “no homo” (gíria que significa “sem intenções homossexuais”).
As atitudes são controversas e mostram a necessidade dos homens héteros de reafirmar suas sexualidades, ao mesmo tempo que interagem entre eles de forma bastante sexual e mantêm um certo distanciamento emocional das mulheres. A produção se diverte com o conceito de homoafetividade – homens só gostam de outros homens; mulheres são vistas apenas como objeto sexual.
O tom de Muito Esforçado lembra o da excelente A Vida Sexual das Universitárias (disponível na Max), porém com foco na vivência masculina e LGBTQIA+, ao invés da feminina. O sucesso de ambas está na combinação de um humor atual com temas que ecoam com o público jovem. Assim, por mais que as situações pareçam absurdas, é fácil entender as motivações e sentimentos dos personagens.
Um retrato honesto da confusão universitária
A transição da adolescência para a vida adulta é um período conturbado para muitos – e pode ser ainda mais quando se é queer. É o momento em que tudo parece definir qual será seu lugar no mundo. Longe da família e sem o status construído no ensino médio, os jovens encaram o desafio de se reinventar — ou se descobrir, pela primeira vez.
A vivência universitária é caótica, constrangedora e às vezes até nojenta. Muito Esforçado aposta na desordem, na confusão e nos excessos para retratar uma vivência que não só é do seu criador mas de muitos jovens por aí. Mais do que uma comédia, a série é um retrato sem filtros sobre amadurecimento.
Serviço
Muito Esforçado (2025)
Primeira temporada – oito episódios