Comédia estrelada por Fernanda Torres e Wagner Moura retorna às telonas em 4k
Saneamento Básico, o Filme voltou aos cinemas, na última quinta-feira (29), em versão restaurada em 4K. Dirigido por Jorge Furtado, o longa conta com Fernanda Torres, Wagner Moura, Camila Pitanga, Lázaro Ramos, Bruno Garcia, Tonico Pereira e Paulo José no elenco. Lançado originalmente em 2007, o filme é uma comédia satírica que levanta uma questão: qual é a importância de investir em cinema em um país que ainda não tem saneamento básico?
A trama acompanha a comunidade fictícia da Linha Cristal, na Serra Gaúcha, cansada de conviver com o mau cheiro de esgoto a céu aberto. Marina (Fernanda Torres) toma a frente da causa e solicita na prefeitura o financiamento de R$8 mil para a construção de uma fossa. O governo não tem essa verba para a realização de obras de saneamento básico. No entanto, tem R$10 mil para a produção de um filme (ou vídeo) de ficção. É fazer o filme ou devolver o dinheiro.
A funcionária da prefeitura dá à Marina e ao marido Joaquim (Wagner Moura) a ideia de driblar o sistema: produzir um filme fictício apenas como justificativa para pegar o dinheiro e construir a fossa. A irmã de Marina, Silene (Camila Pitanga) é casada com Fabrício (Bruno Garcia), que tem uma câmera. Pronto, tudo certo.
É a partir dessa premissa que Saneamento Básico, o Filme se torna metalinguístico, um filme sobre fazer um filme.
Em tom irônico, a narrativa nos mostra o desconhecimento das pessoas comuns sobre o fazer cinematográfico. Em um trecho do roteiro, Marina escreve a seguinte frase: “Uma brisa refrescante traz do vale o aroma das corticeiras em flor”. E Joaquim pergunta: “Como é que você vai filmar isso?”, apontando um erro comum de todo iniciante.
Em outra cena, Otaviano (Paulo José), o pai de Marina, levanta a questão principal: “esse filme é uma palhaçada! gastar dinheiro público que deveria ser usado para construção de estrada, colégio…”. Ele não acredita que o problema da fossa vai ser resolvido, pois já tentou muitas vezes e perdeu a esperança no poder público.
Aos poucos, os personagens vão aprendendo e tomando gosto pela produção. E de forma sutil a narrativa nos mostra que até aqueles que acham besteira fazer cinema quando não se tem saneamento básico estão envoltos – e envolvidos – com arte, seja numa música ou até numa poesia de um salão de cabeleireiro.
O cinema então se torna objeto de denúncia, de engajamento comunitário e de atrativo turístico para a pequena cidade. Saneamento Básico, O Filme critica as incoerências da política brasileira ao mesmo tempo que celebra a força da arte e da cultura como ferramentas de transformação social.
Clássico do cinema brasileiro
O relançamento do longa de Jorge Furtado ocorre em um momento significativo, em que o cinema nacional volta a ganhar força e projeção internacional. Inclusive, com dois atores do elenco, Fernanda Torres e Wagner Moura.
No último ano, a repercussão de filmes como Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, e, agora, O Agente Secreto, de Kleber Mendonça, tem alimentado um movimento de valorização do cinema brasileiro. Um tipo de “renascimento” que reafirma a importância de continuar produzindo, mesmo (ou principalmente) em tempos de crise.
No meio desse levante do cinema nacional, Saneamento Básico, o Filme virou clássico e também meme (no bom sentido) – o que talvez seja uma das maiores conquistas para uma produção nos dias de hoje. Uma cena icônica do filme tomou conta do imaginário coletivo virtual. Nela, Silene Seagal desfila com um vestido da loja Só Lindezas e troca um diálogo engessado com trabalhadores locais.
Todo esse contexto mostra a força e a importância do cinema brasileiro. Um país precisa de saneamento básico, mas também precisa incentivar a cultura. Não é um ou outro, mas sim os dois. A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte, como diziam os Titãs.
E, para alegria do público, Jorge Furtado voltou aos cinema em dobradinha. Além de Saneamento Básico, O Filme, o consagrado Ilha das Flores também está em cartaz em versão restaurada. O documentário de 1986 é considerado o melhor curta-metragem brasileiro da história, pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).
Vale a pena conferir Saneamento Básico, O Filme e Ilha das Flores nos cinemas!