Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo, publicado na revista Neurology da Academia Americana de Neurologia, revelou descobertas significativas sobre o impacto do álcool no cérebro. A pesquisa demonstrou que o consumo de mais de oito doses de álcool por semana aumenta a suscetibilidade a lesões cerebrais.
O estudo analisou 1.781 indivíduos com média de idade de 75 anos, submetidos a necropsia após morte não traumática. Os pesquisadores categorizaram o consumo de álcool nos últimos três meses de vida dos participantes em quatro grupos distintos:
* Grupo de abstêmios: indivíduos que não consumiam álcool
* Grupo de consumo moderado: até sete doses semanais
* Grupo de consumo alto: oito ou mais doses semanais
* Grupo de consumo anterior alto: pessoas com pelo menos três meses de abstenção antes do falecimento
* Indivíduos com histórico de alto consumo (oito ou mais doses semanais) apresentaram maior quantidade de placas neurofibrilares, conhecidas como biomarcadores da Doença de Alzheimer
* Mesmo pessoas com consumo moderado (até sete doses semanais) demonstraram mais lesões vasculares em comparação aos abstêmios
* As lesões observadas estavam relacionadas ao espessamento e enrijecimento das pequenas artérias cerebrais (arterioloesclerose hialina)
Para contextualização, uma dose de álcool corresponde a 14g de álcool, equivalente a 350ml de cerveja, 150ml de vinho ou 45ml de bebida destilada.
A pesquisa contrasta com estudos anteriores que sugeriam benefícios do consumo moderado de álcool para doenças cardiovasculares, representados pela chamada “curva J”. Nessa curva, tanto a abstenção quanto o consumo excessivo apresentam riscos elevados, enquanto o consumo moderado aparece como potencialmente benéfico.
Um estudo complementar publicado pela Nature Communications em 2022 também indicou que o consumo moderado de álcool está associado à redução do volume cerebral ao longo dos anos, podendo afetar o desempenho cognitivo.
As divergências entre os resultados de diferentes estudos são atualmente explicadas por fatores confundidores presentes entre consumidores moderados, como estilo de vida mais saudável, maior socialização e melhor poder socioeconômico.