A taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, deve ser reajustada para 14,25% pelo Banco Central (BC), seguindo a previsão estabelecida desde dezembro do ano passado pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Economistas, no entanto, alertam que este não será o último aumento do ano, com projeções indicando que a Selic pode ultrapassar 15% ou até mesmo atingir 17% até o final do período.
O cenário atual revela um descompasso significativo entre as políticas fiscal, conduzida pelo governo, e monetária, sob responsabilidade do BC. No centro desta dicotomia está o combate à inflação, que acumula 5,06% nos últimos 12 meses, segundo o IPCA, com estimativa de chegar a 5,66% até o final do ano, conforme o boletim Focus.
Carlos Caixeta, associado do IBGC, destaca que “até porque, se ele não fizer isso e a inflação crescer por excesso de gastos do governo e excesso de estímulo para que as pessoas gastam e consumam mais além da capacidade produtiva do próprio país, o Banco Central vai ter que agir e o Banco Central age aumentando a Selic que, por sua vez, inibe a atividade econômica e o país fica com o crescimento econômico reduzido, estrangulado”.
O coordenador do curso de Ciências Econômicas da Ibmec-BH, Ari Francisco, ressalta que a postura contracionista do BC é respaldada por lei, visando garantir o cumprimento da meta inflacionária. Ele menciona iniciativas governamentais que podem intensificar o consumo, como a isenção do Imposto de Renda para trabalhadores com renda até R$ 5 mil e o crédito consignado utilizando o FGTS.
Josias Bento, especialista em investimentos da GT Capital, projeta que “podemos esperar mais dois aumentos, um de 0,75 p.p. e um de 0,25 p.p. para encerrar o ciclo de alta e fecharmos o ano nos 15% de Selic”.
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) alerta que o aumento da Selic impacta negativamente os investimentos, especialmente para pequenas e médias empresas. A entidade ressalta que “esta dicotomia cria um ambiente de incerteza que paralisa as decisões empresariais. A falta de previsibilidade econômica impossibilita o planejamento eficaz, levando os empresários a adotarem uma postura defensiva de preservação de liquidez, em detrimento da expansão produtiva”.