Uma área de 70 mil metros quadrados no bairro São Gabriel, região Nordeste de Belo Horizonte, que seria destinada à construção de uma nova rodoviária, tornou-se um problema para a cidade após mais de uma década de abandono. O projeto, que previa desafogar o trânsito do centro da capital, resultou apenas em desapropriações milionárias e um espaço vazio que hoje serve como depósito de entulhos.
O processo de implementação do projeto atravessou diferentes fases e gestões:
* Em 2009, durante a gestão de Marcio Lacerda (PSB), o projeto foi idealizado com previsão de conclusão para 2012, visando resolver os problemas de trânsito no entorno do Terminal Rodoviário Governador Israel Pinheiro (Tergip).
* Foram gastos mais de R$30 milhões em desapropriações, resultando na remoção de 288 famílias de suas residências, em um processo marcado por negociações complexas e audiências públicas.
* Em 2018, o então prefeito Alexandre Kalil (PHS) classificou o projeto como uma “aberração” e descartou sua continuidade, alegando possível agravamento do trânsito no Anel Rodoviário.
O abandono do projeto trouxe consequências graves para a região. Moradores relatam aumento da insegurança e atividades ilícitas. Glayson Gomes, 51 anos, morador da região desde que nasceu, afirma: “Era melhor ter deixado o pessoal que morava aí. Agora você não sabe quem é quem, quem está passando. Você vê pessoas definhando aí dentro, tem prostituição, usuário de drogas”.
A área atualmente apresenta problemas de iluminação e tornou-se local de risco, especialmente durante a noite. Cristiane Gomes, 42 anos, usuária do transporte público local, relata: “Eu não passo aqui de noite, não me arrisco. De noite não dá para arriscar mesmo”.
A Polícia Militar, através do 16º BPM, informou que realiza patrulhamento preventivo na região e planeja ações conjuntas com a Prefeitura para abordar a situação das pessoas em situação de rua que ocupam o local.
Segundo especialistas, como a urbanista Branca Macahubas, ex-secretária de Regulação Urbana da Prefeitura de Belo Horizonte, uma solução viável para o espaço deve contemplar múltiplos usos, incluindo equipamentos de saúde, habitação, comércio e educação, em vez de se limitar a uma única finalidade.
A Prefeitura de Belo Horizonte, em nota, afirmou que “a decisão da construção e operação da Nova Rodoviária e a posterior desistência do projeto foram definidos por gestões anteriores” e informou não ter novos planos para a área.