A recente polêmica envolvendo a planilha anônima de avaliação de influenciadores escancarou algo que o mercado já sabia, mas talvez evitasse discutir abertamente: a relação entre marcas e influenciadores precisa evoluir.
Se você não ainda não está por dentro desta polêmica, deixa eu te contextualizar.
Uma planilha detalhando avaliações sobre influenciadores digitais viralizou recentemente, trazendo à tona supostas percepções de profissionais que trabalharam com essas personalidades. O documento categorizava os influenciadores em seis critérios principais: nome, rede social, nota de desempenho (variando de 1 a 10), período da parceria, experiência de trabalho e sugestões para outros profissionais da área.
Entre os aspectos avaliados estavam comprometimento com prazos e orientações, relacionamento com equipes e assessorias, além da eficiência em gerar engajamento ou conversões reais. Essa exposição coletiva chamou atenção para o nível de transparência da atuação de influenciadores, gerando debates sobre a maturidade e a profissionalização desse mercado.
Na minha experiência, o branding sempre foi sobre conexão, coerência e construção de valor de marca ao longo do tempo. Mas, em um mundo cada vez mais acelerado e impulsionado por microinterações digitais, esse conceito tem sido desafiado pelo modelo de influência instantânea promovido pelos criadores de conteúdo.
Quando falamos sobre influenciadores, estamos falando sobre marcas pessoais. Cada criador de conteúdo é uma marca viva, que carrega valores, propósitos e expectativas do seu público. Do outro lado, empresas buscam associações que possam impulsionar seus produtos ou serviços, confiando que essa conexão seja autêntica e gere retorno tangível. O problema surge quando essa equação é tratada de forma superficial, sem um alinhamento real de propósitos, valores e profissionalismo.
O que essa polêmica nos ensina?
Primeiro, que influência não é sinônimo de profissionalismo. Ter uma base de seguidores expressiva não garante que um influenciador tenha comprometimento com entregas, respeito aos prazos ou alinhamento com a estratégia de uma marca. As marcas precisam ir além da métrica superficial de números e avaliar a consistência e a credibilidade do influenciador. Da mesma forma, os influenciadores precisam encarar suas próprias marcas pessoais com mais responsabilidade, entendendo que profissionalismo é parte essencial da equação.
Em segundo lugar, evidencia-se a falta de critérios claros na escolha de influenciadores. Em muitos casos, observa-se uma decisão pautada por popularidade e não por fit estratégico. Isso pode gerar parcerias desalinhadas e, pior, comprometer a percepção da audiência sobre a autenticidade de ambas as partes. Na minha experiência, marcas que escolhem influenciadores apenas pela quantidade de seguidores correm o risco de perder credibilidade e desperdiçar investimentos.
Além disso, a discussão também levanta um ponto essencial: quais são as métricas que realmente importam? A planilha expõe uma realidade já conhecida por muitos profissionais de marketing: nem sempre grandes influenciadores trazem resultados comerciais. A distinção entre métricas de vaidade (seguidores, curtidas, visualizações) e métricas de engajamento (comentários, interações genuínas, conversões em vendas) deve ser cada vez mais levada em consideração pelas marcas. Influenciadores de nicho, apesar de terem uma base menor, frequentemente entregam resultados mais consistentes e autênticos para as empresas que apostam neles.
Outra tendência que surge dessa polêmica é o crescimento do influenciador interno. Muitas marcas já começam a perceber o valor de transformar seus próprios colaboradores em embaixadores da marca, gerando um impacto mais autêntico e confiável. Isso reforça a ideia de que influência não deve ser apenas sobre alcance massivo, mas sim sobre relevância e conexão genuína.
Por fim, é preciso lembrar que o mercado de influenciadores, assim como as plataformas digitais, também está em evolução. A polêmica da planilha pode, sim, ser um divisor de águas para que se estabeleçam padrões mais sólidos, contratos mais claros e uma relação mais profissional entre marcas, agências e criadores de conteúdo.
Se branding é sobre significado, influência deve ser sobre impacto genuíno e construção de valor duradouro. Para que isso aconteça, marcas e influenciadores precisam entender que reputação é algo que se constrói com consistência, responsabilidade, tempo e, acima de tudo, autenticidade.
Vamos refletir?
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