Said Santana: ‘Economia é uma ciência humana’

Said Santana: ‘Economia é uma ciência humana’

Algumas pessoas entram em pânico com a dívida, outras nem tanto. Por isso que economia é uma ciência humana e não exata, pois os agentes econômicos possuem comportamento distintos

Esse é o meu primeiro artigo como colunista do Jornal N3 News. Para você que ainda não me conhece, sou um economista Ph.D. que sempre deixa claro que, apesar do amor platônico que a economia desenvolveu pela matemática, economia é, e continuará sendo, uma ciência humana e não exata.

Essa paixão se deve em boa parte pela quantidade de índices econômicos, indicadores microeconômicos e mais uma infinidade seja de números ou de gráficos.

A matemática nos ajuda a explicar décadas de história econômica de forma muito mais simples e didática, através de uma simples fórmula ou um gráfico, sem grandes delongas.

Por exemplo a linha de restrição orçamentária, um conceito econômico simples, deixa claro que dinheiro não dá em árvores. Se você ganha um salário mínimo, a sua linha de restrição orçamentária seria um salário mínimo. Ao gastar mais você vai se endividar, entrar no cartão de crédito, crediário ou cheque especial.

Ao entrar no cheque especial hoje, talvez você não sinta a barreira da linha de restrição orçamentária, pelo contrário, você entra num estado de euforia por ter comprado o que tanto queria. No próximo mês, você movido pela euforia, consegue mais um pouco de crédito para comprar mais coisas, você quase explode de tanta alegria.

Quando você percebe já é tarde demais, aquele pouco dinheiro que você pegou emprestado se transformou em uma fortuna em dívidas, você não tem a menor chance de pagar.

Algumas pessoas entram em pânico com a dívida, outras nem tanto. Algumas quebram a cabeça pensando em como pagar, outras nem se importam. Por isso que economia é uma ciência humana e não exata, pois os agentes econômicos possuem comportamento distintos.

Para algumas pessoas poupar dinheiro, ficar sem gastar todo o salário, chega a causar dor por não comprar tudo o que pode. Já para outras, poupar e viver num estilo de vida inferior ao salário é o normal. Isso varia de indivíduo para indivíduo.

Como várias pessoas financiam suas compras, ocorre a falta dinheiro na praça. Para alguém financiar uma geladeira, alguém terá que poupar, isto é, não gastar, aplicar esse dinheiro poupado em algum banco, e aí sim o banco empresta para quem quiser financiar a geladeira. A grosso modo, o que regula o valor do dinheiro é a taxa de juros.

E quanto mais gente quiser financiar suas compras, mais as taxas de juros subirão para incentivar outras pessoas a pouparem. Simples assim.

No Brasil uma única pessoa precisou pegar emprestado em 2023, a quantia de 230 bilhões de reais, e, em 2024, até o mês de novembro, precisou pegar mais R$ 66 bilhões. São quase 300 bilhões de reais que essa pessoa pegou emprestado em apenas 2 anos! Uau! Haja dinheiro para emprestar. Ou essa pessoa não tem a mínima responsabilidade com dinheiro, ou então, vive no mundo da lua, acreditando que dinheiro dá em arvores.

Pois é, essa pessoa é o governo brasileiro. Uma boa parte do dinheiro que é poupado por toda população brasileira é sugado para pagar as despesas que o governo faz além dos impostos que nós já pagamos a ele. Assim como no exemplo acima, você já sabe o que vira uma dívida ao longo do tempo, e para o governo é a mesma coisa. Sim, a dívida bruta brasileira já ultrapassou os R$ 9 trilhões, isso mesmo, nove tri.

Reforçando que além da dívida de 9 trilhões o governo ainda gasta mais do que arrecada. É a mesma coisa que você estar devendo até a tampa, no cartão de crédito, e, aos finais de semana pagar festa para parentes e amigos. Você irá para o buraco, você sabe disso.

Mas não se assuste, essa dívida não é somente do governo brasileiro, se o governo não conseguir pagar, ela será dividida com todos nós brasileiros. Por exemplo, no valor atual da dívida bruta, se dividirmos por cada brasileiro vivo (215 milhões) corresponderia a mais de 40 mil reais para cada um. Imagine uma família composta de 4 pessoas (2 pais e 2 filhos) seria 160 mil reais de dívida para a família.

Não precisa ser nenhum gênio da matemática ou expert em finanças, para saber que quase nenhum brasileiro tem a menor condição de pagar esse valor. E, se o brasileiro não tem essa capacidade, o governo também não tem a menor capacidade de pagar, afinal, o governo é o povo.

Fique tranquilo que não chegará um boleto ou um aviso na sua casa lhe cobrando o seu quinhão sobre a dívida bruta. A parcela para população chegará via inflação. Esse processo já começou, um carro popular pé de boi custando R$ 80 mil reais, enquanto o salário mínimo ronda os R$ 1.500,00 é quase impossível com a nossa renda andar de carro zero. Se você não se importa com carros e o considera supérfluo tudo bem.

Então indo mais de encontro à realidade comum, todos nós precisamos ir ao supermercado. Não sei se você notou, mas os preços estão a cada mês mais salgados. Supermercado está se tornando um lugar de adrenalina para a maior parte das famílias brasileira. A conta para pagar a dívida pública do governo já está chegando. O dólar acima de 6 reais é uma prova disso. Além das altas da taxa de juros, dificultando ainda mais a sua vida quando quiser financiar alguma coisa.

E pelo andar da carruagem não vejo muita novidade positiva para 2025.

Não é fácil ser economista no Brasil, brinco com meus amigos que nunca morrerei de tédio. De um lado temos a matemática, como ciência exata que nos dá a claridade da luz solar ao meio dia, de que o país não vai bem, e, do outro lado temos a ciências humanas, que nos faz pensar nos milhões de trabalhadores que movem o Brasil e não podem ter um país falido, pois são eles quem sofrerão as piores consequências. Nós economistas temos que manter a balança entre ciências exatas e humanas muito bem equilibrada.

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Said Santana
Said Aad Aziz Alexandre Santana é economista Ph.D. Com 22 anos de experiência no mercado financeiro, é fundador e CEO do Grupo Rentabilidade Pérola Holding.

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Said Aad Aziz Alexandre Santana é economista Ph.D. Com 22 anos de experiência no mercado financeiro, é fundador e CEO do Grupo Rentabilidade Pérola Holding.
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