A autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uma nova etapa de ensaios clínicos da LepVax, a primeira vacina específica contra hanseníase no mundo, traz esperança para o tratamento e controle da doença. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) recebeu o aval para iniciar os testes no Brasil, o segundo país com maior número de casos da doença, atrás apenas da Índia.
A hanseníase, uma condição ainda cercada por preconceito e negligência, pode causar lesões graves na pele e nos nervos. Nos últimos dez anos, o Brasil registrou quase 245 mil novos casos, com 22.773 infecções apenas em 2023, segundo o Ministério da Saúde.
A Fiocruz destaca a importância dessa pesquisa: ‘Com tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), a doença tem cura. Porém, muitos casos são identificados com atraso, quando já existem danos que prejudicam a qualidade de vida e a capacidade de trabalho dos pacientes.’
A LepVax foi desenvolvida pelo Access to Advanced Health Institute (AAHI), um instituto americano de pesquisa biotecnológica sem fins lucrativos. É a primeira vacina específica contra a bactéria Mycobacterium leprae, causadora da hanseníase, utilizando uma tecnologia moderna de subunidade proteica.
Testes pré-clínicos em camundongos e tatus mostraram resultados promissores, reduzindo significativamente a taxa de infecção e retardando danos neurológicos. A primeira fase de testes em humanos, realizada nos Estados Unidos, demonstrou segurança e capacidade de estimular resposta imunológica.
Roberta Olmo, chefe do Laboratório de Hanseníase do IOC/Fiocruz, afirma: ‘A eliminação sustentada da hanseníase enquanto problema de saúde pública requer uma vacina. Neste cenário, a LepVax surge como uma vacina profilática e terapêutica, que poderá contribuir para as metas de controle da doença.’
O teste no Brasil será o primeiro em um território com transmissão ativa da hanseníase. Verônica Schmitz, líder científica do ensaio clínico, ressalta a importância deste estudo: ‘Essa avaliação é importante porque, considerando o cenário epidemiológico do país, possivelmente o sistema imunológico de grande parte dos brasileiros teve contato anterior com micobactérias, o que pode influenciar na resposta à vacina.’
O estudo envolverá 54 voluntários sadios, divididos em três grupos: dois receberão diferentes doses da vacina e um receberá placebo. Os participantes serão acompanhados por um ano após três aplicações da vacina, com intervalos de 28 dias.