A passagem rápida, mas intensa, do técnico português nos faz refletir sobre como queremos ver o nosso Cruzeiro dentro e fora de campo
Assim que começaram a ventilar o nome de Leonardo Jardim no Cruzeiro, eu sabia que ele era um bom treinador. O currículo falava por si: campeão francês com o Monaco, experiência em grandes clubes da Europa, um técnico moderno, tático, estudioso. Mas confesso que não imaginava que, além do profissional, viria alguém com tamanha dimensão humana. E talvez por isso a sua passagem por Belo Horizonte, ainda que curta, tenha deixado marcas que vão muito além das quatro linhas.
O Mister Jardim nos fez reaprender o que é o futebol e o que é o Cruzeiro. Ele chegou em meio ao caos, pegou um clube ainda em reconstrução e, com método e convicção, recolocou o Trem Azul nos trilhos. Mas mais do que resultados, o português nos entregou uma filosofia. E, quem se dispôs a observar, aprendeu.
Aprendeu que o futebol é um sistema integrado, em que o campo é apenas o reflexo daquilo que acontece fora dele. Que gestão profissional é indispensável, e que nenhum time forte sobrevive em meio à bagunça. Que o sucesso começa na sintonia entre todas as áreas: diretoria, comissão técnica, atletas e torcida.
Jardim mostrou que o Cruzeiro não precisa de improviso, mas de planejamento. Que contratação boa não é a mais cara, e sim a mais coerente. Que o scout e a inteligência de mercado são ferramentas tão importantes quanto o treino tático de quarta-feira.
Ele provou também que é possível tirar o máximo de atletas subestimados. Quantos jogadores, que parte da torcida já havia descartado, voltaram a render sob seu comando? Quantos reencontraram prazer em jogar? Jardim fez o Cruzeiro lembrar o valor do coletivo, da entrega, da disciplina.
E, sobretudo, ele nos ensinou algo que muita gente, nos tempos modernos, parece ter esquecido: devemos torcer para o Cruzeiro, e não para jogadores.
Porque o Cruzeiro é maior do que qualquer nome. Passam os técnicos, passam os craques, passam as fases. O que fica é o clube, a camisa, o escudo e as cinco estrelas no peito. E foi isso que Jardim resgatou a essência, a alegria de ser Cruzeiro, a sensação de que o trabalho sério e o amor pelo jogo ainda são capazes de conviver.
O Mister nos lembrou também que atitude não é detalhe, é condição. Que o jogador precisa se responsabilizar pelos próprios duelos, e que ser honesto e verdadeiro no vestiário é o caminho mais curto para o respeito. Tudo isso ele fez com simplicidade, serenidade e caráter. Três virtudes cada vez mais raras no futebol.
E agora, o Cruzeiro entra em uma nova fase. A Era Tite começa. Não é o nome que eu sonhava, confesso. Mas talvez seja o nome que o momento exige.
A história mostra que o técnico gaúcho sabe lidar com grandes grupos, sabe montar sistemas sólidos e, principalmente, sabe ganhar pontos corridos, uma arte que ainda nos falta dominar por completo. Se com Jardim aprendemos a competir e a nos respeitar, com Tite podemos aprender a vencer de forma constante, jogo a jogo, rodada a rodada.
O Cruzeiro que Jardim deixou é mais forte, mais maduro e mais organizado. E o Cruzeiro que Tite recebe tem tudo para dar o próximo passo: voltar a conquistar títulos.
Por isso, Mister Jardim, em nome da torcida, deixo o meu “muito obrigado”.
Obrigado por ter nos lembrado que o Cruzeiro é o que importa.
Obrigado por devolver o orgulho, a serenidade e a esperança.
E por ter mostrado que o futebol, quando feito com verdade, continua sendo o jogo mais bonito do mundo.