Said Santana: ”O Brasil envelhece mais rápido do que enriquece”

Said Santana: ”O Brasil envelhece mais rápido do que enriquece”

Mudança na estrutura etária pressiona previdência, reduz força de trabalho e exige aumento de produtividade para sustentar o país nas próximas décadas

O Brasil está envelhecendo mais rápido do que está ficando rico. Em poucas décadas, deixamos de ser um país jovem e passamos a caminhar para uma estrutura demográfica semelhante à de países europeus, porém sem o mesmo nível de renda, produtividade ou poupança. Essa combinação criou um dos maiores desafios econômicos do nosso tempo: como financiar uma população que vive mais, trabalha menos e depende cada vez mais de serviços públicos e privados que não estavam preparados para essa transformação.

Nos anos 1980, havia quatorze jovens para cada idoso no Brasil. Era um país cheio de crianças e adolescentes. Em 2060, essa relação deve se aproximar de um para um. A pirâmide etária, que sempre tivemos em mente, está se virando de cabeça para baixo. E isso mexe profundamente com a economia. Com menos gente em idade produtiva e mais aposentados, a conta do setor público fica mais pesada: mais gastos com previdência, saúde, assistência; menos arrecadação; menos espaço para investimento.

No mercado de trabalho, a história não é diferente. Menos jovens entrando significa que o crescimento vai depender cada vez mais da nossa capacidade de produzir melhor, e não simplesmente de ter mais gente produzindo. Isso exige qualificação, inovação, tecnologia, automação e um ambiente que permita às empresas ganhar eficiência. Sem isso, corremos o risco de ficar emperrados em um crescimento medíocre, incapaz de sustentar o próprio processo de envelhecimento.

A previdência também merece atenção. O brasileiro poupa pouco, quase sempre por necessidade. Mas, em um país que envelhece tão rápido, isso se transforma em um problema coletivo, não só individual. Fundos de pensão, previdência complementar e produtos de longo prazo passam a ter um papel decisivo, mas ainda são pouco usados. Um país que vive mais precisa aprender a poupar mais e a investir melhor.

Apesar de tudo isso, não é só ameaça. A chamada economia da longevidade abre um conjunto enorme de oportunidades: saúde, moradias especializadas, serviços personalizados, tecnologia assistiva, turismo, bem-estar, educação contínua. O idoso de hoje é muito diferente daquele de décadas atrás. É ativo, é consumidor, é conectado e exigente. Isso cria espaço para novos modelos de negócio, novos empregos e inovação.

A grande questão é como o Brasil vai se preparar. Aumentar a produtividade, reduzir a burocracia, incentivar a poupança de longo prazo, modernizar a previdência, atrair investimento privado, estimular tecnologias que tornem os serviços mais eficientes, tudo isso precisa caminhar ao mesmo tempo.

No fim das contas, o envelhecimento em si não é o perigo, o maior risco é permanecermos imóveis. Se entendermos essa mudança como algo estrutural e inevitável, ainda dá tempo de transformar um problema em oportunidade. Mas a verdade é que já começamos essa corrida bastante atrasados.

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Said Santana
Said Aad Aziz Alexandre Santana é economista Ph.D. Com 22 anos de experiência no mercado financeiro, é fundador e CEO do Grupo Rentabilidade Pérola Holding.

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Said Aad Aziz Alexandre Santana é economista Ph.D. Com 22 anos de experiência no mercado financeiro, é fundador e CEO do Grupo Rentabilidade Pérola Holding.
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