Cansados da superficialidade, consumidores exigirão marcas que sejam, não que apenas pareçam
Chegamos a um ponto curioso da história: nunca se falou tanto sobre branding, e nunca estivemos tão cansados dele.
O mundo vive uma exaustão silenciosa. Não apenas da tecnologia, do consumo, da velocidade, mas da superficialidade. O mercado passou anos empilhando discursos, identidades visuais, slogans perfeitos, manuais de tom de voz… enquanto as pessoas, lá na ponta, se perguntam: e o que isso muda na minha vida?
Que pena, o branding que vemos por aí virou um espelho que reflete a si mesmo. Um sistema que se alimenta de tendências, frameworks prontos, promessas e postagens que soam inteligentes, mas que não transformam o cotidiano de quem importa: o cliente.
O futuro é anti-branding.
O consumidor de 2026 dá como um soco na mesa: não dá mais para engolir mais do mesmo. Ou seja, o modo como estamos fazendo, não faz mais sentido.
No sentido mais puro, o anti-branding propõe:
menos maquiagem, mais verdade.
menos estratégia, mais presença.
menos discurso, mais gesto.
O cliente não quer mais uma marca que apenas fala. Ele quer uma marca que faz. Que chega junto. Que olha nos olhos. Que erra e conserta. Que não se esconde atrás de propósito plastificado. O cliente está cansado de palavras bonitas e sedento de experiências verdadeiras.
As pesquisas que vi da Kantar, da Harvard Business School e da WGSN mostram que a hospitalidade será o novo valor. Mas vamos mais fundo: hospitalidade é o que acontece quando a marca deixa de ser marca e volta a ser humana. Quando ela para de performar autenticidade e simplesmente vive autenticidade. Quando não tenta impressionar.
E aqui uma provocação: toda marca que precisa repetir que é autêntica já não é.
Alguns exemplos práticos:
Na gastronomia, o “instagramável” está dando lugar às mesas que têm história. O prato perfeito perde para o prato que emociona. A foto perde para a conversa. O chef-celebridade perde para o sorriso da equipe que lembra o seu nome. Nos restaurantes que realmente importam, branding não é cor Pantone: é sabor, é cheiro de café passado, é o garçom que pergunta se você voltou para comer “aquele prato de sempre”.
Na moda, o logotipo gigante perde para a peça que abraça de verdade. A campanha milionária perde para a honestidade da história da costureira que trabalha para a marca. E o consumo desenfreado perde para o guarda-roupa que faz sentido.
Na indústria, vence quem mostra a linha de produção sem medo, quem abre seus números, quem não trata ESG como moeda, mas como postura.
No varejo, não adianta mais storytelling se não houver storyliving. O cliente percebe em segundos quando a loja sorri só para vender. O branding raso perde para o que sempre importou: estar presente, ouvir, resolver, acompanhar, cuidar.
As pessoas não querem marcas que finjam ser humanas. Querem marcas que humanas e, por serem humanas, são imperfeitas, contraditórias, surpreendentes, generosas.
O anti-branding não é o fim do branding.
É o fim do branding artificial.
É o fim da marca que vive para si.
É o fim da marca que acha que pertencimento é algo que se compra.
2026 será o ano da marca que devolve o protagonismo às pessoas.
Da marca que se posiciona menos e se comporta mais.
Da marca que reduz ruído para amplificar presença.
Da marca que abandona o palco e senta à mesa.
Da marca que escolhe ser, não apenas parecer.
E talvez, ouso dizer, seja o começo de algo muito maior: o retorno ao significado.
Àquilo que realmente marca.
Àquilo que o branding tentou explicar por décadas, quando na verdade estava bem diante de nós: a experiência humana.
Vamos refletir?
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