Leonardo Luz: “O cobre caminha para a consolidação de um superciclo em 2026”

Leonardo Luz: “O cobre caminha para a consolidação de um superciclo em 2026”

Somente em 2025, o cobre acumulou valorização estimada entre 30% e 40%, com contratos futuros alcançando níveis próximos de US$ 5,60 por libra

Com o fim de 2025 e a recuperação dos preços de diversas commodities ao longo do ano, uma pergunta reaparece entre investidores e analistas: qual será a commodity vencedora em 2026? A resposta está longe de ser trivial, e a própria lógica econômica dos mercados de commodities ajuda a explicar essa dificuldade.

Esses mercados são amplos, internacionalizados e compostos por um grande número de produtores e consumidores, de modo que o preço não reflete a realidade de nenhum agente isolado, mas sim o equilíbrio agregado entre oferta e demanda — geralmente determinado pelo custo marginal do produtor menos eficiente ainda necessário para abastecer o mercado. Como consequência, decisões individuais, como a abertura de uma mina, uma safra maior ou uma interrupção pontual de produção, raramente exercem impacto duradouro sobre as cotações globais.

Soma-se a isso o fato de que a oferta tende a ser inelástica no curto prazo, em razão do elevado volume de capital e do longo tempo de maturação exigidos por novos projetos, enquanto a demanda responde de forma mais rápida a variações no crescimento econômico, em políticas públicas, em preços relativos e em processos de substituição tecnológica. Essa defasagem temporal entre oferta e demanda gera ciclos recorrentes de escassez e excesso de produção, amplificados pelo papel dos estoques e pela influência do dólar, moeda de cotação da maior parte das commodities.

O resultado é um sistema no qual pequenas mudanças nas expectativas podem produzir grandes oscilações de preço, tornando a previsão de commodities um exercício essencialmente probabilístico, em um ambiente estruturalmente incerto.

É a partir dessa lógica — mais estrutural do que conjuntural — que se deve analisar o comportamento recente de um dos grandes destaques de 2025: o cobre. Ao observar sua trajetória ao longo da última década, nota-se uma sequência de ciclos bem definidos. Entre 2015 e 2016, os preços permaneceram abaixo de US$ 5.000 por tonelada, em meio ao enfraquecimento da demanda chinesa e ao excesso de oferta global. Entre 2017 e 2019, houve uma recuperação gradual, acompanhando a melhora da atividade industrial, ainda sem grandes rupturas.

O quadro mudou de forma mais intensa a partir de 2021, quando choques de oferta, estímulos econômicos e mudanças nas expectativas de demanda levaram o metal a sucessivos recordes, culminando, no fim de 2025, em negociações acima de US$ 12.000 por tonelada no mercado spot.

Somente em 2025, o cobre acumulou valorização estimada entre 30% e 40%, com contratos futuros alcançando níveis próximos de US$ 5,60 por libra. Esse desempenho estabelece um pano de fundo favorável para 2026, ainda que marcado por elevada volatilidade, característica intrínseca aos mercados de commodities. As projeções para o próximo ano variam conforme a instituição, mas a maioria dos cenários aponta para preços médios entre US$ 10.000 e US$ 12.000 por tonelada, com estimativas mais otimistas sugerindo níveis superiores a US$ 12.500, caso os déficits de oferta persistam e a demanda se mantenha robusta.

Os contratos futuros podem atingir valores superiores a U$6 por libra. Há, evidentemente, riscos de correção: algumas casas, como o Goldman Sachs, admitem ajustes ao longo de 2026, embora ainda projetem preços acima das médias históricas de longo prazo, especialmente se a oferta responder mais rapidamente ou se a demanda chinesa frustrar expectativas.

O elemento central dessas projeções reside nas limitações estruturais da oferta. Poucos grandes projetos greenfield estão entrando em operação, enquanto expansões em minas existentes enfrentam atrasos associados a entraves ambientais, regulatórios, sociais e geopolíticos. Além disso, gargalos na capacidade global de refino tendem a prolongar o aperto do mercado. Do lado da demanda, o cobre se beneficia não apenas de setores tradicionais, como construção civil e bens de capital, mas também de áreas ligadas à transformação tecnológica e à transição energética. Veículos elétricos, redes de transmissão, energias renováveis e data centers demandam volumes significativamente maiores de cobre por unidade de produção, reforçando seu caráter estratégico no médio e longo prazo.

Esse descompasso entre oferta e demanda, alimentador do bull market verificado para o metal, torna-se ainda mais evidente quando se compara o desempenho do cobre ao de outras classes de commodities nos últimos cinco anos. As commodities energéticas, como o petróleo, apresentaram elevada volatilidade, marcada pelo colapso de preços em 2020, pela forte recuperação a partir de 2021 e pelos choques geopolíticos associados à guerra na Ucrânia. Após atingir níveis historicamente elevados em 2022, esses mercados passaram por relativa normalização, embora com preços ainda mais voláteis e estruturalmente mais altos do que no período pré-pandemia. Em 2025, contudo, o aumento da oferta voltou a pressionar as cotações, abrindo espaço para um cenário de preços mais estáveis — ou até mais baixos — em 2026.

Entre os metais, ouro e prata também se destacaram no período recente. O ouro manteve-se em patamares historicamente elevados mesmo após o ciclo de aperto monetário iniciado em 2022, sustentado por tensões geopolíticas, inflação persistente e compras recorrentes por bancos centrais. A prata, mais volátil, oscilou entre sua função de ativo de proteção e sua natureza de insumo industrial, sensível ao ciclo econômico e à expansão de tecnologias ligadas à eletrificação e à energia solar. Ambos consolidaram ganhos relevantes, reforçando seu papel estratégico em um ambiente global marcado por incertezas.

O otimismo em relação ao cobre, contudo, repousa sobre fundamentos ainda mais específicos. Diferentemente do petróleo, pressionado pela transição energética, e dos metais preciosos, cuja oferta cresce de forma relativamente estável, o cobre enfrenta uma combinação singular de demanda estrutural crescente e restrições persistentes de oferta. Pelo lado da demanda, trata-se de um insumo insubstituível para a eletrificação, a digitalização e a modernização da infraestrutura global. A alta condutividade elétrica e térmica do metal não encontra equivalentes econômicos viáveis, o que limita significativamente a possibilidade de substituição. Além disso, esse crescimento da demanda está menos associado a ciclos econômicos tradicionais e mais a mudanças tecnológicas e regulatórias de longo prazo, conferindo maior persistência ao consumo.

As restrições de oferta também possuem caráter estrutural. Em 2025, interrupções relevantes afetaram grandes unidades produtivas. A mina de Grasberg, na Indonésia, registrou perdas acumuladas estimadas entre 525 mil e 600 mil toneladas. No Chile, El Teniente enfrentou paralisações que reduziram sua produção, enquanto projetos como Quebrada Blanca sofreram atrasos. No Peru, operações como Constancia lidaram com desafios técnicos e sociais. Já na República Democrática do Congo, o complexo Kamoa-Kakula foi impactado por enchentes que interromperam temporariamente a produção.

Esses episódios tendem a se repetir, dada a forte concentração geográfica da produção. Chile e Peru respondem juntos por mais de um terço da oferta global, o que torna o mercado particularmente sensível a choques locais. Ao mesmo tempo, os teores médios de minério vêm caindo, elevando custos e complexidade operacional, enquanto novas fronteiras produtivas, como o próprio Congo, enfrentam riscos logísticos, institucionais e políticos que reduzem a previsibilidade da oferta. O resultado é um limite prático à expansão produtiva no curto e médio prazos, reforçando projeções de déficits persistentes para os próximos anos. Outras commodities associadas à transição industrial e energéticas não possuem os mesmos gargalos de longo prazo, tornando o cobre um ativo singular no redesenho das matrizes industriais das próximas décadas.

Em síntese, as perspectivas para o cobre em 2026 permanecem predominantemente altistas. A combinação de demanda estrutural robusta, restrições relevantes à oferta e ausência de substitutos econômicos viáveis sustenta preços médios significativamente acima das referências históricas da última década. Embora a volatilidade continue sendo parte do cenário, não parece exagero supor que 2026 seja marcado não apenas pela manutenção do bull market, mas pela consolidação de um superciclo do cobre, com potencial para se estender por vários anos.

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Imagem N3 News
João Macêdo
Jornalista formado pela Universidade Federal de Pernambuco, com experiência em redação, assessoria de imprensa e análise de dados.

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