Frank Martins: ”Gabriel Barbosa conseguiu a proeza de entrar para a mesma prateleira onde estão Thiago Neves e Edmundo”

Frank Martins: ”Gabriel Barbosa conseguiu a proeza de entrar para a mesma prateleira onde estão Thiago Neves e Edmundo”

Fico me perguntando se o pênalti errado na semifinal contra o Corinthians foi uma pirraça por uma provável vinda do Tite para o Cruzeiro

Há nomes que ficam marcados na história de um clube por tudo o que fizeram dentro de campo. Outros, por tudo o que deixaram de fazer. E Gabriel Barbosa, o Gabigol, conseguiu o feito de entrar para o segundo grupo: o dos que causam asco e decepção na torcida do Cruzeiro. Um seleto e indigesto hall onde já moram figuras como Thiago Neves e Edmundo. Coincidência ou ironia do destino: todos chegaram a esse patamar depois de uma cobrança de pênalti.

O que dói no caso de Gabigol não é apenas o erro, mas a forma como tudo aconteceu. O Cruzeiro estava a um passo de voltar à final da Copa do Brasil. Seis anos depois, o clube poderia novamente disputar um título grande, devolver o sorriso e a confiança a uma torcida que tanto sofreu. Era o pênalti mais importante do Cruzeiro desde a queda de 2019. E quem foi escolhido para bater? O camisa 9 milionário, o “homem de decisão”, o “melhor batedor do país”, o cara que vive de dizer que nasceu pra jogo grande.

Pois bem. Entrou só pra isso. E entregou… aquilo.

A cobrança foi uma afronta à camisa que veste. Um pênalti batido com displicência, soberba e desinteresse. Um tapa sem alma, sem sangue, sem vergonha. Quem ganha mais de R$ 2,5 milhões por mês pode até errar, o futebol aceita o erro. Mas não aceita o desdém. O Cruzeiro merecia, no mínimo, um gesto de arrependimento, um semblante de quem sentiu o peso da responsabilidade. Mas não. Gabigol errou e saiu de campo como se nada tivesse acontecido.

O torcedor que lotou o Mineirão na sua apresentação, que defendeu sua contratação mesmo com desconfiança do resto do país, que pediu mais minutos e oportunidades durante toda a temporada… hoje se sente traído. Porque não foi apenas um pênalti desperdiçado, foi uma confiança jogada fora.

E pra piorar, depois da eliminação, o senhor Gabriel Barbosa sequer teve a dignidade de voltar com a delegação. Enquanto o time retornava a Belo Horizonte, o camisa 9 ficou em São Paulo. Um gesto simbólico, e ao mesmo tempo simbólico demais: ele nunca entendeu o que é ser Cruzeiro.

Ser Cruzeiro é saber cair junto e levantar junto. É voltar pra casa com o grupo, olhar no olho do companheiro e pedir desculpa. É respeitar a camisa, a instituição e o torcedor. Gabigol preferiu o atalho da vaidade.

E o pior é que, olhando pra trás, parece que estava tudo escrito. O mesmo roteiro de outros que também brincaram com a história do clube. Edmundo, em 2001, no auge da arrogância, não perdeu, mas sim recuou um pênalti contra o Vasco e saiu demitido logo em seguida. Thiago Neves, em 2019, ao desperdiçar a cobrança contra o CSA, simbolizou o início do nosso calvário. E agora, Gabriel Barbosa fecha essa trindade infame de “pênaltis da vergonha”.

E no meio de toda essa raiva, não consigo deixar de pensar: será que ele já sabia da provável chegada do Tite?

Será que o erro foi um ato inconsciente de rebeldia, uma pirraça por imaginar que o ex-técnico da Seleção, que o preteriu em 2022, vai desembarcar na Toca pra ser o novo comandante? Pode ser exagero, eu sei. Mas é o tipo de pensamento que brota quando o gesto é tão frio, tão apático, tão distante da realidade do jogo.

Se fosse por mim, deixaria o Gabigol mais um ano no banco, sem despedida, sem mimo, pra refletir sobre o que é respeito. Respeito à camisa, à história e ao torcedor. O valor é troca de pinga para o Pedrinho. E se for pra sair, que saia direito: que paguem cada centavo investido.

O Cruzeiro, como instituição, sobreviveu a rebaixamentos, dívidas, SAFs, reconstruções e muita torcia contra. Vai sobreviver a mais esse capítulo vergonhoso. Porque o Cruzeiro é maior do que qualquer jogador. E o que nos resta, no fim, é lembrar o que Leonardo Jardim nos ensinou: torcer para o Cruzeiro, nunca para jogadores.

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Frank Martins
Frank Martins
Jornalista, cruzeirense e contador de histórias do time que fez do Mineirão o palco da eternidade. Já passei pela Itatiaia, O Tempo, Hoje em Dia, TV Rede Super e ESPN FC, mas aqui no N3 News a proposta é outra: menos noticiário, mais alma. Reflexões, memórias, causos e análises do clube que carrego 5 estrelas no peito e que me ensinou a amar o futebol. Porque ser Cruzeiro é mais do que torcer: é transformar cada jogo em memória e cada título em parte da alma dessas páginas heroicas e imortais.

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