O Museu do Ipiranga, localizado em São Paulo, marcou o início das comemorações de seus 130 anos com o lançamento do podcast “Pensar o presente – histórias de um museu em transformação”. A série, produzida pelo Estúdio Novelo, propõe uma reflexão crítica sobre as narrativas construídas pela instituição ao longo de sua existência, com cinco episódios que serão disponibilizados semanalmente às quartas-feiras.
Paulo César Garcez Marins, diretor do Museu do Ipiranga, destaca a importância da constante revisão das linhas de pensamento e da ampliação de horizontes nas instituições museológicas. “Esse é um esforço que diversas instituições têm feito, que é alargar o perfil das suas coleções para uma diversidade social brasileira”, explica.
Os episódios do podcast foram estruturados a partir de elementos significativos do acervo:
* “Doces Memórias” apresenta uma coleção inusitada de aproximadamente 5 mil rótulos de produtos cotidianos, incluindo balas, chicletes, biscoitos e bebidas, representando um novo olhar sobre objetos tradicionalmente desconsiderados em ambientes museológicos.
* “Presença na Ausência” aborda a histórica invisibilidade de grupos étnicos no museu, especialmente das populações indígenas e de origem africana, discutindo a ausência de acervos relacionados a estes grupos.
* “Saber Fazer” explora a história da construção do edifício através dos tijolos originais, identificando as olarias responsáveis por meio de seus monogramas.
* “Álbum de Família” destaca a importância das coleções fotográficas, com ênfase no acervo de Militão Augusto de Azevedo, que conta com 12 mil fotografias retratando diversos segmentos sociais e étnicos de São Paulo entre 1861 e 1890.
A transformação do acervo do museu é evidenciada pela mudança nos critérios de seleção de objetos. Durante cerca de 100 anos, a instituição priorizou itens vinculados a figuras de importância política ou econômica, geralmente confeccionados com materiais preciosos. “E esse alguém era normalmente uma figura de importância política ou [de origem de] uma grande fortuna da cafeicultura, por exemplo. Essas eram as atribuições para que um objeto entrasse nas nossas coleções”, explica o diretor.
Nos últimos 30 anos, o museu ampliou significativamente seu acervo, incorporando objetos relacionados a diferentes classes sociais e ao cotidiano. Um exemplo notável é a Coleção Nery Rezende, que documenta a vida de uma mulher negra de classe média em meados do século 20, incluindo fotografias e documentos pessoais.
Paulo Marins ressalta que aproximadamente 80% do acervo atual provém de doações da sociedade, o que considera “estimulante e democrático”. O podcast busca aproximar a população dessas novas reflexões, demonstrando como uma instituição centenária pode se manter contemporânea através da colaboração com a sociedade e da constante atualização de suas narrativas.