Liesse Costa: ”O amanhã não existe?”

Liesse Costa: ”O amanhã não existe?”

O futuro não é um destino aleatório, mas uma colheita inevitável das sementes que plantamos hoje

Há quem diga, com um certo ar de sabedoria, que “o amanhã não existe” ou que “o amanhã pertence a Deus”. E, de fato, essas frases guardam um princípio verdadeiro: não temos controle sobre tudo o que virá. Porém, ao invés de despertarem leveza, propósito e presença, elas muitas vezes acendem em nós um gatilho de preocupação, paralisia e autocobrança. A mente logo dispara: “Se eu nem estou dando conta do hoje, o que será do amanhã?” Ou ainda: “Nunca fiz nada direito… então tanto faz viver o hoje ou o amanhã.”

Esses pensamentos não surgem à toa; são frutos de crenças herdadas, narrativas familiares e culturais que, silenciosamente, moldam nossa maneira de existir. Crescemos ouvindo que a vida é imprevisível, que “o mundo gira”, que “cada dia com sua agonia”, que “a vida decide por nós”. Assim, criamos uma relação distorcida com o tempo. O presente vira fardo, o passado vira culpa e o futuro vira sombra.

E é nesse cenário emocional que se instala o que chamo aqui de “síndrome do Zeca Pagodinho”: “deixa a vida me levar.” Não se trata de criticar o artista, longe disso. Trata-se de perceber como essa filosofia se infiltra nas nossas ações (ou na falta delas). Ela soa libertadora, mas muitas vezes nos prende a uma passividade sorrateira, à ilusão de que estamos vivendo com leveza quando, na verdade, estamos apenas nos afastando de assumir a responsabilidade pela construção da nossa própria história.

É claro que não temos controle absoluto sobre o amanhã. A vida é, sim, feita de surpresas, algumas doces, outras amargas. Mas isso não significa que o futuro seja um território totalmente aleatório. Pelo contrário: o futuro é um campo fértil, e quem define o que será plantado hoje somos nós.

O lavrador sabe disso melhor do que ninguém. Ele não lança uma semente na terra e simplesmente vai embora esperando que a natureza faça o resto. Antes de plantar, ele estuda o solo, escolhe a época, prepara a cova, aduba, protege, acompanha. E, ainda assim, ele sabe que não controla a chuva, o sol, o vento. Mas controla o cuidado. Controla a dedicação. Controla o esforço diário. O milagre da germinação não está apenas na semente, está na combinação entre o que está nas mãos do lavrador e o que não está.

E nós? Como cuidamos das sementes que são nossos sonhos, relacionamentos, projetos, valores, saúde, espiritualidade? Jogamos na terra e viramos as costas? Esperamos que o tempo resolva o que a nossa ação ignorou? Acreditamos cegamente que “o amanhã não existe”, e por isso deixamos de nutrir a vida no hoje?
A verdade é que viver o presente não é sinônimo de viver de qualquer jeito. Não é abraçar o improviso como regra, nem romantizar a falta de planejamento. Viver o presente é estar consciente, inteiro, desperto para a qualidade das sementes que estamos plantando. É perceber que o hoje é um canteiro ativo, não um lugar de estagnação.

O amanhã não existe ainda, mas está sendo construído, silenciosamente, pelas suas escolhas. Cada conversa, cada decisão, cada hábito diário é uma pequena rega no terreno da sua vida. E mesmo que você não perceba de imediato, suas ações de agora se desdobrarão em consequências inevitáveis.

Por isso, o convite desta edição da Metanoia é profundo:
Como você tem cuidado do seu terreno interior?
Tem alimentado pensamentos que fortalecem ou enfraquecem?
Tem nutrido relacionamentos ou apenas tolerado?
Tem feito escolhas ou deixado que elas sejam feitas por você?

O amanhã não é uma promessa, é um reflexo. E, embora não tenhamos domínio sobre tudo, temos domínio sobre como escolher viver o dia de hoje. Não com ansiedade, mas com propósito. Não com pressa, mas com intenção. Não com a ilusão de controle absoluto, mas com a consciência de que cada pequena atitude é uma semente que anuncia a colheita futura.
A vida não exige perfeição, exige presença. Não pede obras imensas, pede constância. Não pede certezas, pede coragem, a coragem de plantar mesmo sem ver ainda o broto despontando.
Porque, no fim das contas, o amanhã talvez não exista agora… mas ele nasce, inevitavelmente, do que você faz hoje.
E você, está plantando o quê?

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Foto: Reprodução
Liesse Costa
Liesse Costa é jornalista, pós-graduado em Gestão de Pessoas, Competência e Coaching. Atua como coordenador pedagógico na área de Tecnologias Integradas e também como evangelista e líder espiritual. Desenvolve trabalhos voltados ao crescimento pessoal, com foco na mudança de crenças limitantes, expansão da consciência, inteligência emocional, Mindset e estímulo à superação da zona de conforto. Sua trajetória combina comunicação, educação, fé e desenvolvimento humano, sempre com propósito e sensibilidade.

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Liesse Costa
Liesse Costa é jornalista, pós-graduado em Gestão de Pessoas, Competência e Coaching. Atua como coordenador pedagógico na área de Tecnologias Integradas e também como evangelista e líder espiritual. Desenvolve trabalhos voltados ao crescimento pessoal, com foco na mudança de crenças limitantes, expansão da consciência, inteligência emocional, Mindset e estímulo à superação da zona de conforto. Sua trajetória combina comunicação, educação, fé e desenvolvimento humano, sempre com propósito e sensibilidade.
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