Em um cenário marcado por quatro anos sem ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) tradicionais, empresas brasileiras estão encontrando um caminho alternativo para entrar na Bolsa através do IPO reverso, uma estratégia que envolve a aquisição de uma companhia já listada por uma não listada.
“A empresa deixa de fazer um IPO tradicional, junta-se a outra que tem registro em Bolsa, e herda esse registro”, explica Gustavo Rugani, sócio e responsável pela área de Mercado de Capitais do escritório de advocacia Machado Meyer.
Embora o mecanismo não seja novo, sua aplicação recente tem se destacado pela união de empresas de setores completamente diferentes. Casos notáveis incluem:
* A OranjeBTC, empresa de tesouraria de bitcoin e educação financeira, entrou na Bolsa após adquirir o cursinho pré-vestibular Intergraus, garantindo suas operações até o final de 2025.
* A Fictor, holding multissetorial, em parceria com a Aqwa Capital, adquiriu a Atom Empreendimentos e Participações, transformando-a na Fictor Alimentos, com foco em proteína animal.
* A Reag Investimentos conquistou seu espaço na B3 através da compra da Getninjas, transformando uma plataforma de serviços em uma gestora de fundos.
O processo não encontra impedimentos regulatórios, necessitando apenas da aprovação dos acionistas e cumprimento das exigências normativas. “Não há limitação, é uma compra e venda normal”, afirma Maiara Madureira, sócia do escritório Demarest Advogados.
A incorporadora BRZ é um exemplo recente, buscando combinar negócios com a Fica Empreendimentos. Segundo Fabiano Valese, diretor financeiro da BRZ, além do acesso à Bolsa, a operação oferece vantagens como o banco de terrenos da Fica em Nova Iguaçu.
Os especialistas destacam que empresas listadas têm acesso a instrumentos de captação de recursos não disponíveis para companhias fechadas, como ofertas subsequentes de ações (follow-on), além de geralmente obterem custos de capital mais baixos nos mercados financeiro e de capitais.
Esta tendência reflete a busca por alternativas mais ágeis para acessar o mercado de capitais, especialmente em um período de escassez de IPOs tradicionais.