O aumento dos gastos militares globais está gerando preocupação crescente sobre seu impacto nas mudanças climáticas. Um relatório recente do secretário-geral da ONU, António Guterres, alerta que a escalada nos investimentos militares pode acelerar o colapso climático, especialmente considerando que o setor militar é responsável por até 7% das emissões globais de gases de efeito estufa.
A OTAN anunciou que seus países membros aumentarão os gastos com defesa e segurança de 2% para 5% do PIB até 2035. Este anúncio vem após um aumento significativo na pegada de carbono da organização, que cresceu em 30 milhões de toneladas entre 2021 e 2023.
* Os gastos militares globais atingiram US$ 2,7 trilhões em 2024, um aumento recorde de 9,4% em relação ao ano anterior
* Se os exércitos do mundo fossem um país, seriam o quarto maior emissor de gases de efeito estufa, atrás apenas de China, EUA e Índia
* O aumento da pegada de carbono da OTAN equivale a adicionar mais de oito milhões de carros nas estradas
* Aeronaves de combate são as máquinas militares que mais consomem energia
* O caça F-35 da Força Aérea dos EUA emite, em 185 quilômetros voados, a mesma quantidade de CO2 que um carro comum britânico em um ano
* Especialistas alertam sobre a dificuldade em descarbonizar sistemas de armamento pesado, incluindo tanques e navios de guerra
“A intensificação da produção militar para aumentar os estoques consume muita energia, enquanto os avanços tecnológicos em tecnologia de baixo carbono continuam limitados”, afirmou Doug Weir, do Observatório de Conflitos e Meio Ambiente.
O impacto dos conflitos atuais no clima é significativo. A guerra na Ucrânia gerou cerca de 175 milhões de toneladas de gases de efeito estufa nos primeiros dois anos, enquanto o conflito em Gaza produziu aproximadamente 1,9 milhão de toneladas de emissões de carbono.
“Seja um caça, seja um tanque, ainda não temos a tecnologia necessária para garantir uma capacidade militar livre de emissões”, declarou Richard Nugee, general aposentado do Exército Britânico e ex-oficial sênior da OTAN.
O relatório da ONU também destaca que os países mais ricos investem 30 vezes mais em suas forças armadas do que em financiamento climático para nações vulneráveis. Durante a COP29, os países desenvolvidos se comprometeram a fornecer US$ 300 bilhões anuais até 2035, valor considerado insuficiente pelos países em desenvolvimento.
“US$ 2,4 trilhões para matar uns aos outros não é muito, mas um trilhão de dólares para salvar vidas é considerado absurdo”, criticou Juan Carlos Monterrey Gomez, representante do Panamá para mudanças climáticas, durante as negociações da COP29.