Eu sei, mister Leonardo Jardim, o futebol brasileiro não é para os fracos. É intenso, ruidoso, contraditório. Causa decepções, raiva e desgaste tanto para quem torce quanto para quem trabalha nele. E talvez o senhor já tenha sentido um pouco disso. Mas, por favor, não se acostume.
Porque, para nós cruzeirenses, o senhor é o português mais importante a pisar no Brasil desde Pedro Álvares Cabral. E não, não é exagero. Em poucos meses, o senhor fez o que parecia impossível: devolveu dignidade, confiança e alegria ao torcedor do Cruzeiro.
O Cruzeiro perdeu apenas três partidas nos últimos seis meses. Três. É uma média de uma derrota a cada dois meses. Um número que fala por si só, mas que ganha ainda mais peso quando lembramos de como estava o clube antes da sua chegada. O time era uma terra arrasada fisicamente, tecnicamente e taticamente.
E o senhor, mister, reconstruiu tudo. Com calma, com método, com paciência e, principalmente, com futebol de verdade. O Cruzeiro de Leonardo Jardim tem identidade, tem propósito e tem alma.
O treinador anterior havia somado quatro vitórias em quatro meses. O senhor, com praticamente o mesmo elenco, transformou um time desacreditado em uma equipe competitiva, organizada e corajosa. Isso não é acaso. É trabalho.
Por isso, quando o senhor fala em “cansaço”, em “repensar o futuro”, em “caminhos”, dá um frio na espinha do torcedor. Mister, não nos abandone agora. Faça como Dom Pedro I e proclame o seu “Dia do Fico”. Diga na próxima coletiva, com aquele sotaque carregado e sorriso contido, que fica, que acredita, que ainda há capítulos por escrever nessa história azul celeste.
A torcida confia. O Pedrinho confia. O senhor tem o respaldo, o elenco na mão e a cidade inteira debaixo de um mesmo sentimento: gratidão.
Veja o que o seu conterrâneo Abel Ferreira construiu no Palmeiras. Um português chegou aqui, enfrentou o caos do futebol brasileiro e virou parte da história. Tenho certeza de que o senhor tem conhecimento, temperamento e potencial para ir além. Para escrever um capítulo ainda mais bonito com o Cruzeiro, com Minas, com o futebol brasileiro.
Sim, há erros, e é justo apontá-los. Todo trabalho tem ajustes a fazer. Mas é impossível negar o tamanho do que foi feito até aqui. Foram meses de reconstrução real, em meio a desconfiança, pressão e um cenário difícil. E mesmo assim, o Cruzeiro voltou a competir, voltou a sonhar e voltou a orgulhar o seu torcedor.
O senhor não apenas treinou um time. O senhor reacendeu uma paixão.
Então, mister Jardim, em nome de milhões de cruzeirenses, um pedido: não vá embora. Fique. Continue esse projeto que tem tudo para ser histórico.
O Cruzeiro está no caminho certo e o caminho certo tem o senhor no comando.

