Dorli Kamkhagi: “Por que ir à terapia?”

Dorli Kamkhagi: “Por que ir à terapia?”

A terapia não somente nos dá um grande aprendizado, como também nos ajuda a pensar o que nos leva a querer mostrar ao mundo quem nós não somos

Li uma matéria do escritor Youval Harari que chamou minha atenção. Ele diz que se conhece muito bem, e que embora tenha um amplo conhecimento sobre si mesmo (melhor do que ninguém) diz que o olhar do outro, no caso o terapeuta, pode ser muito importante e ampliar partes desconhecidas e desconfortáveis.

O que este “novo conhecimento” ajuda na nossa jornada nem sempre é fácil. Foi a partir desta reflexão que conversei com minha amiga e mentora Bia Ferraz. Falamos sobre como a terapia não somente nos dá um grande aprendizado em nossa historicidade e aprofundamento sobre dores e lutos, como também nos ajuda a pensar o que nos leva a querer mostrar ao mundo quem nós não somos.

Explico melhor: vivemos em uma sociedade que nos cobra desde o nascimento formas de comportamento e de estar no mundo. A mãe que teve o bebê, por exemplo, precisa estar ótima, recuperada e em forma rapidamente. E quase ninguém pergunta qual a disponibilidade emocional para esta pessoa viver neste novo lugar.

Sabemos que este novo vínculo que começa a existir precisa de um tempo e de um espaço de calma, até para poder conter as angústias de ambas. Então muitas vezes a terapia é este espaço de acolhimento e cuidado. Nele é possível começar a compreender e a dar novos significados nesta nova relação que está sendo construída.

Ainda que exista uma luta muito grande entre o meu eu ideal e o meu eu real, é neste lugar que podemos adoecer. Nem sempre conseguimos atingir ideais imaginários que parecem existir em um Universo tão difícil de acessar mas tão distante de quem tem dores.

Ainda nesta conversa com Bia Ferraz sobre terapia, ficou muito clara a necessidade de se fazer um trabalho quase artesanal de costura com fios emocionais que estão soltos e que precisam ser trabalhados em suturas delicadas. Esses fios precisam conter a força do conhecimento e amparar as feridas e dores emocionais.

Afinal, somos humanos e falíveis. E esta é a maior oportunidade de nós construirmos a partir de medos e partes esburacadas. Dando novos significados e ampliando possibilidades!

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Foto de perfil Dorli
Dorli Kamkhagi
Psicóloga e Psicoterapeuta de adultos, casais e famílias, mestre em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, é colaboradora e supervisora de Grupos de Maturidade e Projetos sobre o Envelhecimento do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

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Dorli Kamkhagi
Psicóloga e Psicoterapeuta de adultos, casais e famílias, mestre em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, é colaboradora e supervisora de Grupos de Maturidade e Projetos sobre o Envelhecimento do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
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