Dorli Kamkhagi: ‘Os diferentes tempos’

Dorli Kamkhagi: ‘Os diferentes tempos’

O tempo cronológico e o tempo subjetivo mostra como a busca pela juventude eterna apaga nossa história e como é possível reconciliar o envelhecer com o desejo e o sentido de viver

Vamos falar dos tempos da nossa vida. Todos somos mediados por Cronos, que seria o Tempo do Relógio, o marcador de nossos anos e dias, o que nos insere em uma dimensão física e concreta da realidade.

Vivemos, porém, em uma sociedade que se baseia na beleza e na negação do envelhecer. Somos conduzidos por um universo que nos instiga, de diferentes maneiras, a sermos “eternamente jovens”, com uma disposição de cumprir rituais sem fim em busca de um ideal inalcançável.

As pessoas se tornam quase maratonistas nessa performance interminável, o que frequentemente leva a grandes frustrações e a uma busca de perfeição que tenta apagar as marcas do tempo e da história de vida.

Essas marcas que nosso rosto e corpo expressam são eliminadas na busca por uma perfeição idealizada. Acabamos apagando narrativas de vivências e experiências, ou seja, nossa própria história.

A esse tempo de vivências e percepções soma-se a memória da construção de quem somos e daquilo que não pudemos ter. Todas essas elaborações se voltam ao desejo de construir novos projetos de vida, de escrever outros capítulos nos quais possamos amar. Ter planos e desejos é o tempo de Kairós, que possibilita uma compreensão que vai além do marcador biológico.

O tempo Cronos atua em todos nós como um marcador de passagens e nos cobra: “hoje é outubro, daqui a pouco é janeiro”. Ele tem uma força e uma demanda que permitimos que seja intensa, e por vezes violenta, levando a adoecimentos psíquicos e físicos, seja por exaustão, seja por não nos darmos conta de tantas mudanças.

Essa busca pela perfeição gera a negação de que temos uma idade, uma vida e um tempo que nos referencia. Mas é preciso lembrar: somos guardiões de nossas marcas e memórias, e convivemos com o legado da nossa ancestralidade. Kairós nos valida como seres que têm um presente, porque tivemos um passado e podemos ter desejos a serem vividos e transformados em futuro.

A possibilidade de olharmos por lentes com nossa capacidade emocional nos ajuda a repensar o que é realmente válido para cada um de nós, e como podemos buscar nossa identidade.

Emocional x funcional na fusão destes dois tempos: Cronos e Kairós. Uma nova perspectiva possível!

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Dorli Kamkhagi
Psicóloga e Psicoterapeuta de adultos, casais e famílias, mestre em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, é colaboradora e supervisora de Grupos de Maturidade e Projetos sobre o Envelhecimento do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

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Dorli Kamkhagi
Psicóloga e Psicoterapeuta de adultos, casais e famílias, mestre em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, é colaboradora e supervisora de Grupos de Maturidade e Projetos sobre o Envelhecimento do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
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