De Versace a Armani, a moda mostra que o luxo pode tanto gritar quanto sussurrar — e cada escolha traduz uma forma de estar no mundo
Há mais de 30 anos falando sobre comportamento e moda, é natural que algumas perguntas se repitam e, que, com o tempo, minhas respostas mudem . O mundo tem mudado rapidamente e é normal que a moda e o comportamento acompanhem. No entanto, a pergunta campeã continua sendo. “O que é a elegância?”
Bom, essa é fácil de responder mas nem tanto de colocar em pratica: a elegância baseia-se em discrição e sobriedade – dois requisitos que andam em falta depois de décadas do império ostentação. Pois é: vivemos a era do dinheirismo puro e simples, dos mega casamentos nde ninguém se conhece, nem de emociona e muito menos se diverte. Onde uma foto vale mais que qualquer diploma.
E, por isso mesmo, que consegue transitar entre todas as tribos com elegância administrando o caos com leveza, se sobressai e jamais é esquecido.
Recentemente o mundo da moda perdeu Giorgio Armani – que poderia ser descrito, entre outras coisas como um perfeito representante da tendência do “Quiet Luxury” que chegou devagarinho e vem tomando conta como um novo conceito de estilo de vida
Na moda, o luxo nunca é apenas sobre roupas: ele traduz visões de mundo, estilos de vida e maneiras de comunicar poder.
Duas correntes se destacam nessa linha do tempo — o luxo ostentação e o quiet luxury. Enquanto o primeiro aposta na teatralidade e no impacto visual, o segundo se apoia na discrição e na sofisticação silenciosa. Poucos estilistas representam melhor esse contraste do que Gianni Versace, falecido precocemente, e Giorgio Armani.
Versace elevou o luxo ostentação a um patamar quase mítico. Suas criações são marcadas por cores vibrantes, estampas barrocas, detalhes dourados e a icônica Medusa, símbolo de sedução e poder. Para ele, o corpo era como palco e a roupa, espetáculo. Vestir Versace significa desejar ser visto, provocar impacto e viver o luxo como performance social. Não à toa, suas coleções sempre dialogaram com o universo das celebridades, da música e do entretenimento, onde a moda precisa brilhar sob os holofotes.
Já Armani, construiu sua obra sobre o que chamamos hoje de quiet luxury. Seu estilo é reconhecível pela paleta neutra — cinzas, beges, marinhos — e pela alfaiataria impecável, que valoriza o caimento natural e o conforto sofisticado. Ele não precisa de logomarcas chamativas ou excessos decorativos: seu luxo está na qualidade invisível, na roupa que parece simples, mas carrega um trabalho de modelagem e materiais de altíssimo padrão. Quem veste Armani transmite confiança sem precisar de alarde.
Se Versace é o luxo da noite, da festa e da afirmação, Armani é o luxo da elegância atemporal, do dia a dia versátil, do conforto e fluidez no trabalho
Enquanto o primeiro clama por atenção, o segundo conquista pela discrição. Versace representa a exuberância de quem quer dizer “olhem para mim”; Armani, a serenidade de quem transmite “eu não preciso provar nada”.
Os movimentos do opostos do luxo ostentação e quiet luxury mostram que a moda não é apenas estética, mas também linguagem social. Versace e Armani são dois lados de uma mesma moeda: um traduz o brilho da extravagância, o outro a força da sobriedade. No fim, ambos revelam que o luxo é, antes de tudo, uma forma de expressão — ora gritante, ora sussurrada, mas sempre carregada de significado.
Na prática, trata-se apenas de entender melhor como queremos nos expressar visualmente e, claro, se isso vai de acordo com nosso temperamento, ocupação e estilo de vida.