A pressão do presidente Donald Trump tem intensificado a prática de “gerrymandering” (manipulação eleitoral) nos Estados Unidos. O objetivo é alterar os mapas dos distritos eleitorais em estados controlados pelos republicanos para aumentar a representação do partido na Câmara dos Representantes.
O professor James N. Green, da Universidade de Brown, explicou à Agência Brasil que Trump teme perder a maioria no parlamento em 2026. “Historicamente, desde 1938, o presidente sempre perde algumas cadeiras na Câmara nas eleições ao Legislativo entre as eleições presidenciais. Ele tem medo de perder o controle da Câmara. A maioria dele é de apenas três deputados republicanos. Se ele perder a Câmara, ele não pode iniciar a análise do orçamento sem o apoio dos democratas”, comentou.
* O Texas foi um dos primeiros estados a implementar mudanças, aumentando em cinco o número de deputados para a Câmara. Segundo o deputado democrata Vince Perez, a alteração resultou em desproporcionalidade racial: “Hoje, hispânicos e texanos brancos representam cerca de 40% da população do nosso estado. Igual em número. No entanto, segundo este mapa proposto, 26 dos 38 distritos eleitorais — 70% da nossa delegação — serão controlados por distritos de maioria branca”.
* No Missouri, o governador republicano Mike Kehoe defendeu as mudanças afirmando que visam priorizar valores “conservadores”. Trump celebrou a iniciativa declarando: “O novo mapa do Congresso, muito mais justo e aprimorado, dará ao incrível povo do Missouri a tremenda oportunidade de eleger mais um Republicano”.
* Em resposta, estados democratas como Califórnia, Illinois, Nova York e Maryland consideram alterações similares. O governador californiano Gavin Newsom declarou: “Vamos combater fogo com fogo”.
O sistema eleitoral americano difere do brasileiro por ser distrital, não proporcional. O professor Green explica que normalmente o redesenho dos distritos ocorre após o Censo populacional, a cada 10 anos, seguindo critérios demográficos objetivos. No entanto, alguns estados permitem que suas assembleias realizem essas alterações, enquanto outros exigem comissões independentes.
“O sistema americano não é nada democrático. O sistema brasileiro é mais democrático. E o discurso americano de maior democracia é papo furado”, concluiu Green.
A pressão de Trump já alcança outros estados republicanos como Indiana, Flórida e Ohio, evidenciando uma tendência crescente de manipulação dos limites distritais para benefício político partidário.