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Velejar pelo Mediterrâneo oferece uma experiência autêntica e intensa, superando uma viagem convencional com aventura e laços
Ao planejar uma viagem, costumo me perguntar: o que esse destino vai acrescentar à minha vida? Que experiências quero guardar e transformar em lembranças duradouras? Não abro mão de buscar autenticidade, mergulhando em costumes, sabores e momentos que permitam viver a essência de cada lugar ― longe dos circuitos turísticos tradicionais.
Sempre sonhei em conhecer as praias do Mediterrâneo do jeito que os europeus há anos exploram: velejando. Juntamos uma turma de amigos, pesquisamos empresas especializadas e encontramos a Trace Yachting, que nos alugou um catamarã de 48 pés por uma semana. O valor girou em torno de 1.600 euros por pessoa (aproximadamente 13 mil euros o total), incluindo a embarcação, alimentação, bebidas, staff, taxas de portos e combustível ― o investimento é equivalente ao de uma viagem convencional, mas entrega uma experiência memorável.
O catamarã é simples, com dois cascos paralelos e uma área central onde ficam sala, cozinha e a área externa. Os quartos são compactos e banheiros pequenos. É preciso reduzir o consumo de água e energia, e, no nosso caso, dormíamos apenas com a brisa do mar (já que o gerador era barulhento demais para à noite). A tripulação é composta pelo capitão e pela hostess. O convívio próximo pede entendimento e flexibilidade entre todos, mas é nesse contexto que reside o verdadeiro luxo da viagem: criar laços e experiências por meio de vivências únicas e intensas.
O destino foi o arquipélago das Cíclades, na Grécia. Paisagens áridas se misturam ao mar azul profundo, vilarejos de casas brancas com cúpulas azuis pontuam a costa e praias rochosas paradisíacas aparecem pelo caminho. O roteiro começou por Mykonos, seguiu por Paros, Koufonisia, Amorgos, Iraklia e Antiparos. Cada dia era uma descoberta: cafés da manhã observando o horizonte, navegação à vela até o próximo destino, banhos no mar translúcido, pulos de rochas e precipícios e ilhas quase desertas. À tarde, os almoços diante de praias tranquilas eram acompanhados de snorkel, stand-up paddle e drinks refrescantes. Ao final da tarde, atracávamos em um novo porto, distante das multidões, onde apreciávamos o pôr do sol impressionante e um convite à vida noturna local.
No barco, café da manhã, almoço, drinks e petiscos são preparados com ingredientes frescos, comprados pela hostess nos mercadinhos de cada vila. As refeições são simples, mas expressam os verdadeiros sabores mediterrâneos: omeletes de queijo feta, salada grega, azeitonas frescas, peixes e frutos do mar recém pescados e sobremesas típicas gregas. Os jantares em pequenas tavernas revelam a cozinha autêntica grega, e sempre há espaço para descobrir lojinhas e bares, onde experimentamos o Tsipouro, típico destilado feito a partir do bagaço da uva.
A hospitalidade grega se fez presente e é, sem dúvida, um dos destaques do roteiro. Longe dos grandes centros, é possível conviver e interagir de verdade com a cultura local. Em Iraklia, ilha de apenas 150 habitantes, participamos de uma festa anual que reúne o povoado e visitantes das ilhas vizinhas. Na praça central, uma banda regional anima crianças, adultos e idosos, todos em roda dançando o Sirtós. Essa dança tradicional começa em ritmo tranquilo, mas vai acelerando ― e logo a roda vira um caracol agitado onde todos se misturam. É difícil descrever a emoção que foi participar dessa experiencia. Mesmo tímidos no início, bastou alguns shots de Tsipouro para embarcarmos nesse clima contagiante e nos sentirmos parte da festa, que encerrou ao amanhecer numa típica cena de filme grego, com uma briga de bêbados.
Viajar de veleiro traz seus riscos. As condições do tempo podem impactar o roteiro, e a convivência pode gerar desafios. Ainda assim, a experiência é única. Pelo mesmo valor que se gastaria em uma viagem convencional, navegar pelo Mediterrâneo transforma a viagem numa aventura surpreendente e intensa, capaz de superar qualquer expectativa e gerar lembranças inesquecíveis.
