Marcilio Alves: ‘Coca-Cola, Superman e o Morango do Amor: o que essas histórias nos contam sobre as marcas e o mundo em transformação?’

Marcilio Alves: ‘Coca-Cola, Superman e o Morango do Amor: o que essas histórias nos contam sobre as marcas e o mundo em transformação?’

Três casos mostram como marcas se adaptam a novos valores sem perder sua essência

Embora diferentes em natureza: uma bebida clássica, um super-herói icônico e uma sobremesa viral; esses três casos compartilham uma lição central sobre o valor da marca em tempos de mudança.

Nos últimos meses, três acontecimentos aparentemente distantes chamaram minha atenção: A Coca-Cola anunciando uma nova versão com açúcar de cana, após um “pedido” de Donald Trump. O novo Superman, mais humanizado, sensível e alinhado com valores sociais, sendo rotulado por alguns como “woke”. E o improvável protagonista dos aplicativos de delivery: o doce Morango do Amor, que virou febre nacional e ganhou até linha de maquiagem.

Três histórias. Três universos diferentes. Mas, na minha visão, um ponto em comum: marcas tentando se manter relevantes em um mundo em constante transformação.

Coca-Cola: Quando uma fórmula vira bandeira política

A Coca-Cola nunca é só um refrigerante. Ela carrega décadas de memória afetiva, histórias de Natal, jingles marcantes e… agora, discussões sobre política e saúde pública. Trump afirmou que pediu à marca uma versão com açúcar de cana — mais natural, segundo ele, no lugar do xarope de milho. A resposta veio rápido: a Coca vai lançar essa nova opção, mas sem mexer na fórmula tradicional. E o que isso nos ensina? Que mexer em algo clássico exige cuidado cirúrgico. A marca entendeu que pode inovar, desde que o rompa com aquilo que as pessoas ainda amam.

Superman: Um herói com valores contemporâneos

O novo Superman, dirigido por James Gunn, trocou o lema “verdade, justiça e o jeito americano” por algo mais universal. No filme, Clark Kent é filho de imigrantes, empático, e conectado com dilemas do nosso tempo. O resultado? De um lado, aplausos de quem vê um herói mais próximo da realidade atual. Do outro, críticas por estar “politizado demais”. Mas talvez o que mais assuste certos públicos seja o simples fato de que marcas icônicas também evoluem. Superman continua sendo um símbolo de esperança, só que agora, esperança para mais pessoas.

Ahh, o Morango do Amor: O doce que virou fenômeno nacional

Já o Morango do Amor, esse símbolo das festas juninas, virou sensação em 2025. Ganhou o TikTok, invadiu o iFood e virou maquiagem, tema de post, meme e sobremesa gourmetizada. Um doce simples, mas com visual que “quebra na boca”, gera prazer visual e entrega uma experiência compartilhável. Ou seja: não é só o sabor, é o que ele faz você sentir e, principalmente, mostrar.

Mas, o que tudo isso revela?

As três situações mostram que marcas conseguem se manter relevantes sem renegar sua história, desde que façam inclusão estratégica, construam sobre a memória afetiva do consumidor e naveguem rápidas tendências sociais ou digitais. É essa combinação de legado, flexibilidade e harmonização com narrativas contemporâneas que gera identificação, engajamento e, por fim, resultados.

Separei abaixo uma síntese das mudanças e a interconexão entre elas:

AspectoCoca‑Cola
(açúcar de cana EUA)
Superman 2025 (“woke”)Morango do Amor
Tipo de mudançaVersão nova sem remover a clássicaReinterpretação ideológica do heróiDoce resgatado com estética viral
Conexão emocionalSaúde + autenticidadeValores sociais (imigração, bondade, soberania, democracia)Sensação, visual e pertencimento
Reação públicaEspeculações sobre o novo sabor e críticas políticasPolarização ideológicaAdesão massiva, “intent to buy” elevada
RiscosCustos mais altos, lobby do milhoRejeição de parcela conservadoraAlta de preços, logística e consistência de oferta
AprendizadoEscolha sem ruptura históricaInovação tematizada sem romper legadoExperiência como produto e storytelling

Na minha experiência, essas três histórias nos lembram de que marcas não vivem em laboratórios, vivem no coração das pessoas. E nesse coração, há memória, identidade, valores, desejos, medos e, claro, muita emoção.

Algumas lições que carrego desses casos:

Ofereça opções, sem romper vínculos.
A Coca não matou a fórmula antiga. Criou uma nova escolha.

Atualize o discurso, sem perder a essência.
Superman ainda é o herói que inspira, só que com dilemas mais próximos do mundo real.

Entregue sentimento, não só produto.
O Morango do Amor viralizou porque gerou prazer, afeto e pertencimento.

Para refletir:

Marcas que se conectam de verdade com as pessoas entendem uma coisa: não é sobre mudar por mudar. É sobre mudar com sentido.

É sobre ler os sinais do tempo e responder com coragem, escuta e empatia. É sobre entender que seu produto está inserido em contextos maiores; políticos, sociais, emocionais. E é sobre lembrar que, em tempos de tanta informação, a emoção ainda é o que mais move.

Na minha experiência, essas três histórias nos lembram de que marcas não vivem em laboratórios, vivem no coração das pessoas. E nesse coração, há memória, identidade, valores, desejos, medos e, claro, muita emoção.

Vamos refletir?

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Marcilio Alves
Consultor de marketing e comunicação com mais de 20 anos de experiência em gerenciamento de marcas, com atuação em negócios locais e no exterior. No Brasil, está à frente da NDG, agência de Branding que há mais de 15 anos impulsiona negócios e projetos, conectando marcas e pessoas, gerando resultados em diversos segmentos, com clientes no Brasil, Portugal, Angola e Estados Unidos.

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