A cidade de Gaza enfrenta sua primeira confirmação oficial de fome, de acordo com o relatório divulgado pelo Integrated Food Security Phase Classification (IPC), sistema apoiado pela ONU. O documento classifica a situação como “catastrófica”, com mais de 500 mil pessoas enfrentando risco imediato de “fome, miséria e morte”.
A crise humanitária, descrita como “totalmente provocada pelo homem”, pode ser revertida caso haja acesso amplo e imediato a ajuda humanitária. O secretário-geral da ONU, António Guterres, caracterizou o cenário como “um desastre provocado pelo homem, uma acusação moral e um fracasso da própria humanidade”.
* A avaliação foi realizada por aproximadamente 50 especialistas de 19 organizações, utilizando métodos como levantamentos telefônicos e medições de circunferência dos braços de crianças para avaliar desnutrição
* O estudo prevê que, até setembro, a escassez grave se estenderá para as áreas de Deir al-Balah e Khan Younis
* Rafah foi excluída da análise por estar majoritariamente despovoada, enquanto o norte do território não foi avaliado por falta de evidências suficientes, embora a situação seja considerada “igual ou pior” à da Cidade de Gaza
* Mais de 12 mil crianças foram identificadas em estado de desnutrição aguda em julho, com uma em cada quatro apresentando a forma mais grave da condição
O relatório também alerta para o agravamento de doenças como diarreias, infecções respiratórias, sarampo e até pólio, favorecidas pela combinação de desnutrição, superlotação e falta de saneamento. Mesmo com possível aumento na entrada de ajuda humanitária até setembro, a assistência continuará insuficiente.
O Ministério da Saúde administrado pelo Hamas afirma que 271 pessoas já morreram de fome ou desnutrição desde outubro de 2023, incluindo 112 crianças. A organização Médicos Sem Fronteiras reporta que uma em cada cinco crianças atendidas em suas clínicas sofre de desnutrição severa ou moderada.
Israel rejeita o relatório do IPC, acusando a organização de usar “dados parciais e enviesados”. O Ministério das Relações Exteriores israelense classificou o documento como “fabricado” e afirma ter enviado cerca de 100 mil caminhões de ajuda a Gaza desde o início da guerra.