Por alguém que ainda procura as chaves enquanto fala ao telefone
Crescendo sem manual de instruções
Parabéns, você chegou aos 40+. Seja bem-vindo(a) ao clube mais exclusivo do mundo: gente que sobreviveu à infância sem capacete, cresceu sem Google, e descobriu a vida adulta sem manual de instruções.
Somos a última geração que teve que descobrir tudo na marra. Crescemos acreditando que a vida era uma escada simples: escola, faculdade, trabalho, sucesso. Só esqueceram de avisar que era uma escada rolante… descendo.
Estamos espremidos entre duas realidades: filhos que nasceram sabendo mexer no iPhone e pais que ainda pedem ajuda para ligar a TV. Somos tradutores entre o mundo analógico e digital, terapeutas familiares não remunerados e CTOs domésticos sem diploma.
Nossa rotina? Acordar pensando em 47 responsabilidades, trabalhar como se não houvesse amanhã, resolver mil pendências, e dormir planejando o que não vai dar tempo de fazer. É vida em modo avião, mas sem sair do lugar.
Aos 40, o corpo vira aquele amigo sincero: “Dormiu mal? Vai sentir a semana toda.” “Comeu besteira? Aqui está sua azia.” A nova realidade é ter farmacinha organizada por horários e conhecer mais médicos que amigos solteiros.
O Google virou nosso clínico geral, YouTube nosso fisioterapeuta, ChatGPT nosso psicólogo e a Glór.ia, nossa nutricionista. Qualquer sintoma vira pesquisa de 2 horas que termina com a gente se convencendo de que tem a doença rara da Sibéria. Acorda com dor no pescoço, googla “dor pescoço”, em 20 minutos está lendo sobre tumores cerebrais, baixa app de meditação, esquece de meditar.
Nossa força na sociedade
A saúde mental da nossa geração 40+ é delicada e sobrevive com medicamentos, aos trancos e barrancos. Somos a faixa etária que mais consome antidepressivos e ansiolíticos no país. O Rivotril virou nossa vitamina C, o Omeprazol nosso básico diário, e todo mundo tem “aquele remedinho para dormir” guardado. Não é fraqueza – é sobrevivência em tempos modernos.
Mesmo assim, somos nós que movimentamos a economia brasileira. Seja como força de trabalho ou como consumidores de bens e serviços, somos a força motriz do país. Pagamos as contas, criamos os filhos, cuidamos dos pais, e mantemos a roda da economia girando.
Somos a geração que vivenciou a redemocratização, estabilização da moeda, era da internet, e agora enfrenta a revolução da inteligência artificial (esperamos que não precisemos do John Connor). Adaptamos, aprendemos, evoluímos – e continuamos de pé, mesmo com dor no joelho.
Estamos cansados (mas não derrotados)
Nossa geração ainda sente vergonha de admitir o cansaço e que precisa de medicamentos para dar conta da vida. Como se nossos pais não tivessem inventado o “toma uma cervejinha que passa”.
Enquanto ainda aprendemos filtro do Instagram, já tem IA escrevendo e-mail melhor que nós. A boa notícia? IA pode ser nossa aliada: apps de meditação, assistentes que lembram de beber água, tecnologia finalmente a nosso favor.
Nossas cicatrizes heroicas: Aos 40+, finalmente sabemos quem somos. Sabemos o que gostamos, o que não toleramos, e que a opinião alheia perdeu importância. Temos histórias reais, cicatrizes que ensinam, sabedoria de quem sabe que nem tudo precisa ser perfeito.
Sobrevivemos a modas ridículas, relacionamentos tóxicos, chefes impossíveis, crises econômicas. Se chegamos até aqui, somos mais fortes do que imaginamos. Somos os heróis e heroínas não reconhecidos da economia nacional.
O guia prático do herói cansado:
Respire fundo: A luta continua
Ser 40+ em 2025 é ser sobrevivente épico navegando em um mundo que mudou as regras no meio do jogo. É normal estar cansado, precisar de ajuda, não ter todas as respostas.
O que não é normal é fingir que está tudo bem quando não está.
Somos a geração que sustenta o país, cria o futuro, e ainda encontra forças para recomeçar – mesmo com dor no joelho e robô tentando pegar nosso emprego. Somos heróis cansados, mas heróis.
Então respire fundo, tome o remedinho sem culpa, marque aquele médico, e lembre-se: não precisamos ser perfeitos. Só precisamos continuar sendo a geração “badass “que sempre fomos.
E, pelo amor de Deus, quando for procurar as chaves, largue o celular e olhe nos bolsos.