Said Santana: ‘O Estado que acolhe a irresponsabilidade e pune quem trabalha’

Said Santana: ‘O Estado que acolhe a irresponsabilidade e pune quem trabalha’

O Estado jamais deve servir como instrumento de dominação para manter o pobre eternamente ajoelhado, dependente de programas assistencialistas, enquanto é ensinado a odiar quem se levantou

Em uma cabana solitária no alto das montanhas, vivia um velho lenhador. Certa manhã, o ancião da vila subiu a montanha para alertá-lo:

— Este ano, o inverno será mais cruel do que nunca. Prepare-se bem.

O lenhador agradeceu o aviso, mas não respondeu. Em vez disso, caminhou até a floresta e começou a cortar lenha para garantir o necessário para enfrentar o rigor que se aproximava.

Dia após dia, sob sol ou neve, ele se esforçava. Cortava ainda mais lenha quando seus braços doíam. Cortava quando o vento parecia rasgar sua pele. Incessantemente, focado no trabalho o lenhador continuava.

E assim o tempo passou.

Quando finalmente o sol aqueceu as árvores e os primeiros brotos da primavera despontaram, os vizinhos subiram a montanha para ver se o velho havia resistido.

Encontraram-no tranquilo, sentado à sombra de uma pilha imensa de lenha.

— O senhor passou bem o inverno? — perguntaram.

Ele sorriu e respondeu:

— Qual inverno?

O mundo caminha para o caos quando, em vez de valorizarmos o trabalho árduo, batemos palmas para o pôr do sol. Transformamos contemplação em desculpa para inércia.

Nas últimas décadas, no Brasil, fomos condicionados a acreditar que o Estado deve cuidar de tudo e de todos. Uma ideia sedutora: “Não precisa estudar com afinco, não precisa trabalhar com afinco, não precisa ser responsável. Nós, o Estado, cuidaremos de você.”

Nos últimos dias, políticos alinhados à esquerda reacenderam uma narrativa ultrapassada, quase de ficção científica: a rixa entre ricos e pobres. Uma fábula moderna onde quem empreende é o vilão, e quem depende do Estado é sempre a vítima inocente de um sistema opressor.

Mas a realidade é mais dura — e moralmente invertida.

Um adolescente empina a moto, sofre um acidente, e o SUS cobre toda a internação. Se ficar inválido, o INSS garante o benefício. Um motorista embriagado provoca uma tragédia, e o Estado mobiliza hospitais, ambulâncias, pensões. Um aventureiro se perde em trilha sem preparo, e helicópteros públicos são acionados para resgatá-lo. Tudo isso pago por quem? Pelo trabalhador formal, o empresário, o autônomo — aquele que contribui, que anda na linha, que gera riqueza real, e, no final, paga a conta dessa filantropia.

Enquanto isso, esses mesmos políticos atacam o lucro, ridicularizam o mérito, desprezam o empreendedor. Transformaram a ideia de justiça social num biombo ideológico para sustentar uma máquina estatal que premia irresponsabilidades e castiga a produtividade.

Não se trata de negar socorro a quem precisa. O sofrimento humano merece compaixão. Mas é urgente resgatar a noção de responsabilidade mútua: o Estado deve amparar, mas não escravizar. Proteger, mas não acomodar. E jamais servir como instrumento de dominação para manter o pobre eternamente ajoelhado, dependente de programas assistencialistas, enquanto é ensinado a odiar quem se levantou.

A verdade é clara: o maior inimigo do trabalhador não é o rico — é o projeto de poder que se alimenta da pobreza alheia. A miséria é capital político. Quanto mais dependente for o cidadão, mais útil ele se torna para quem deseja poder sem mérito.

O Brasil não precisa de mais divisão. Precisa de um Estado que ajude quem caiu a se reerguer — mas que nunca corte as pernas de quem decidiu caminhar por conta própria.

Assim como o velho lenhador, é o trabalho que nos aquece diante do inverno. E o Brasil precisa, mais do que nunca, de lenhadores — não de plateias que batem palmas para o sol.

Mais textos do colunista

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do N3 News

Foto de perfil Said Santana
Said Santana
Said Aad Aziz Alexandre Santana é economista Ph.D. Com 22 anos de experiência no mercado financeiro, é fundador e CEO do Grupo Rentabilidade Pérola Holding.

RELACIONADAS

Foto de perfil Said Santana
Said Santana
Said Aad Aziz Alexandre Santana é economista Ph.D. Com 22 anos de experiência no mercado financeiro, é fundador e CEO do Grupo Rentabilidade Pérola Holding.
Economia e Negócios