Ele fazia isso todo dia aqui no Cruzeiro. Mas agora virou manchete. E continua a injustiça de nunca ter ido a uma Copa do Mundo.
Quem nunca sentiu saudade da ex? No caso aqui, a saudade é do ex-goleiro. Ex-Cruzeiro, que fique claro. Porque assistir ao Mundial de Clubes da FIFA e ver o que Fábio está fazendo em campo é um misto de orgulho e dor. Orgulho pelo monstro que ele sempre foi. Dor, porque ele podia estar fazendo isso aqui ainda. Fábio é, disparado, o melhor goleiro do torneio. E agora, finalmente, parece que o Brasil e o mundo estão reconhecendo isso.
Com a marca de 507 jogos sem sofrer gols, Fábio ultrapassou o lendário Gianluigi Buffon e se tornou o goleiro com mais clean sheets da história do futebol mundial. Um feito monumental, histórico, simbólico. E que, para quem acompanhou o Cruzeiro entre 2000 e 2021, não surpreende nem um pouco. Afinal, 370 desses 507 jogos foram com a camisa azul celeste. Ele fez isso aqui, na Toca, no Mineirão, em Ipatinga, no Acre, na Argentina. Sem holofotes. Sem manchetes da mídia do eixo.
É bonito ver a imprensa carioca e paulista agora se derretendo por Fábio. É justo. Mas também é curioso. Porque, com todo respeito, ele já fazia isso todo dia aqui no Cruzeiro. E a verdade é que a falta de reconhecimento nacional por tantos anos tem nome e sobrenome: desinteresse da CBF e da mídia concentrada no Rio e em São Paulo.
Semana passada uma repórter da ESPN disse: “Não dá pra normalizar um goleiro desse não ter tido uma Copa do Mundo. Com todo respeito a quem foi, mas é inacreditável ele não ter tido uma chance.”
Concordo. E reforço: não foi falta de desempenho. Foi falta de lobby. Foi bairrismo. Foi o velho futebol brasileiro tratando mal quem não é do eixo.
Fábio merecia uma Copa. E ainda merece. Longevidade, consistência e excelência foram os pilares de uma carreira impecável. Desde sua estreia em 1997, ele construiu uma trajetória marcada por liderança, disciplina e desempenho de alto nível. No Cruzeiro, foram 976 partidas. É o jogador que mais vezes vestiu a camisa do clube. Foi campeão, capitão e ídolo. É, até hoje, a referência de um profissional exemplar.
Hoje, aos 44 anos, Fábio está a apenas 14 jogos de igualar o inglês Peter Shilton como o jogador com mais partidas na história do futebol. São 1.390 jogos. Isso mesmo. E tem gente que ainda discute se ele é grande o bastante…
E é aí que a gente volta pra um ponto que machuca um pouco. Será que o maior erro do Ronaldo, como gestor da SAF, foi ter deixado Fábio sair sem completar 1000 jogos no Cruzeiro?
A resposta é delicada. Ronaldo foi o presidente certo no momento mais difícil da nossa história. Teve pulso, profissionalismo e coragem para fazer cortes duros. Sem ele, não teríamos SAF nem estrutura. Mas Fábio merecia o final de ciclo que nunca teve.
Pelo menos, agora, o Brasil parece estar acordando. O mundo está reconhecendo. O Fluminense, onde ele segue fazendo história, colhe os frutos. E a gente, aqui, assiste com aquele sorriso no canto da boca. Porque sabemos o que ele fez. Sabemos o que ele representa. E sabemos que Fábio é, sim, um dos maiores goleiros da história do futebol. Mundial, agora oficialmente.
Quem sabe ainda dá tempo da Seleção corrigir essa falha grotesca? Difícil. Mas não impossível. Até lá, que ele siga empilhando recordes. Não torço para o título do Fluminense, mas para que o Fábio consiga fazer o melhor torneio possível. Caso traga o Mundial pro Brasil seria como cereja de uma carreira absurda.
E mesmo que a Copa não venha, uma certeza já temos: Fábio foi, é e sempre será um dos maiores goleiros que já vestiu a camisa do Cruzeiro.
E agora, o mundo todo está vendo.