A China Merchants Port Holdings (CMPORT), braço do grupo estatal China Merchants Group (CMG), anunciou a aquisição de 70% do terminal de petróleo do Porto de Açu, localizado no Rio de Janeiro. A negociação, que ainda depende da aprovação de órgãos reguladores, envolve a compra das operações da VAST Infraestrutura, em acordo firmado com a Prumo Logística.
O Porto de Açu possui características estratégicas únicas na América do Sul:
* É o único terminal capaz de receber navios VLCC (Very Large Crude Carrier)
* Movimenta atualmente cerca de 560 mil barris de petróleo por dia
* Possui capacidade licenciada para até 1,2 milhão de barris diários
* Responde por aproximadamente 30% das exportações brasileiras de petróleo
Esta aquisição faz parte de uma estratégia mais ampla de expansão chinesa nos portos sul-americanos. A CMPORT já controla o Terminal de Contêineres de Paranaguá desde 2018 e possui projetos no Porto de Santos e no Maranhão.
O professor Marcos Pedlowski, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, alerta: “Os casos de Chancay, Paranaguá e Açu são apenas alguns exemplos da penetração das empresas chinesas em áreas portuárias e outras estruturas de manuseio de commodities na América do Sul”.
A movimentação gera preocupações sobre soberania nacional e segurança estratégica. Especialistas apontam para o histórico da China em outros países, como no caso do porto de Hambantota, no Sri Lanka, onde o governo local perdeu o controle da instalação após não conseguir pagar empréstimos chineses.
O controle de um terminal tão importante por uma estatal estrangeira levanta questões sobre o monitoramento das operações e o acesso a informações estratégicas. Segundo Pedlowski, “o controle de áreas estratégicas da China em outro país cria uma série de dificuldades em relação à soberania nacional e ao exercício da autoridade nacional sobre a área adquirida”.