O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e integrantes do partido identificaram no debate sobre a cobrança de impostos uma oportunidade estratégica para enfrentar a oposição. Um monitoramento realizado pelos petistas indicou potencial de engajamento nas redes sociais raramente alcançado pela esquerda neste tema.
A estratégia se baseia no argumento de justiça social, defendendo que os mais ricos e grandes empresas devem contribuir mais para financiar políticas públicas e benefícios como a isenção de Imposto de Renda para os mais pobres. Embora cientes do possível desgaste junto à cúpula política e empresarial, o partido decidiu manter o posicionamento.
Principais pontos da estratégia governista:
* O presidente Lula defendeu publicamente as medidas tributárias no podcast “Mano a Mano”, argumentando que “O IOF do Haddad não tem nada de mais” e defendendo uma “justiça tributária” onde quem ganha mais deve pagar mais impostos.
* A ministra Gleisi Hoffmann (PT) reforçou o discurso afirmando que “Elas são indispensáveis para começarmos a corrigir as enormes injustiças de um sistema que isenta os ganhos em aplicações financeiras e cobra até 27,5% de imposto de uma professora primária”.
* O ministro Fernando Haddad ganhou destaque após embate com deputados bolsonaristas na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, onde defendeu firmemente as propostas do governo e classificou a postura da oposição como “molecagem”.
Um levantamento da consultoria Bites mostrou que a participação de Haddad na comissão proporcionou um raro momento de destaque para a esquerda nas redes sociais. O ministro conquistou 30 mil novos seguidores no Instagram e Facebook, seu melhor desempenho desde 2023.
O governo enfrenta pressão após elevar o IOF para operações de câmbio e crédito empresarial no final de maio. Houve um recuo parcial, com Haddad negociando uma elevação menor combinada com outras propostas de arrecadação, incluindo o fim da isenção de investimentos incentivados e aumento de impostos para bets, fintechs e JCP.
A Câmara, contudo, aprovou com 346 votos favoráveis um requerimento para acelerar a tramitação de uma proposta que anula as alterações no IOF, representando uma derrota para o governo. Mesmo assim, integrantes do governo defendem que os ministros intensifiquem o tom do debate, com Lula apoiando manifestações mais enfáticas em defesa das medidas governamentais.
O presidente tem sido aconselhado a evitar confrontos diretos com o centrão para manter a estabilidade no Parlamento, embora alguns ministros sugiram declarações mais contundentes para realinhar sua base à esquerda.