A capital nacional dos bares agora vê sua noite se transformar com os novos hábitos da geração Z
Houve um tempo em que a juventude fazia questão de virar a noite. A madrugada tinha algo de mágica, de promissora. Era nela que nasciam os amores de pista, os amigos de banheiro de balada, os planos que se desfaziam ao nascer do sol. Era ela, e não o dia, que parecia ter toda a energia do mundo.
Mas o mundo mudou. E mudou antes mesmo de a gente perceber.
De Londres a Berlim, passando por São Paulo e Nova York, os templos da noite estão apagando as luzes. A boate Watergate, ícone berlinense, fechou as portas depois de 22 anos. No Reino Unido, 75% das casas noturnas desapareceram nas últimas duas décadas. A noite está murchando — e não é por falta de som, mas por falta de quem queira dançar até tarde.
O público também mudou. A geração Z, nascida entre 1995 e 2010, carrega outra bússola: prefere café da manhã com os amigos a uma rodada de tequila; trocou o copo pela consciência, a ressaca pelo sono regulado, o flerte ao vivo pelos aplicativos. Em 2024, mais de 60% dos casais se conheceram online — e menos de 5% em bares ou restaurantes.
Essa geração não quer mais encontrar o amor na pista — prefere encontrá-lo no feed. E isso muda tudo.
BH em compasso diferente: a capital dos bares diante de uma nova geração
É aqui que o dilema ganha sotaque. Belo Horizonte sempre se orgulhou do título não-oficial — agora oficializado pela Abrasel — de capital nacional dos bares. São 178 bares para cada 100 mil habitantes. Mais que São Paulo. Mais que o Rio. Mais que qualquer outro lugar.
Cada bairro já teve sua própria balada. Alambique, Swingers, Café Cancun, Pop Rock, Bwana, Três Lobos. Era um mapa afetivo e noturno, onde cada esquina pulsava um som diferente — e cada sexta-feira prometia histórias que o domingo não ia lembrar.
Hoje, sobram bares e faltam boates. As que resistem — como o Chalezinho e A Obra — miram públicos distintos, tentando equilibrar tradição com reinvenção. Mas o que mais cresce é o rolê com hora marcada: Mercado Novo, rua Sapucaí, Paralelo, bares que enchem no início da noite e esvaziam antes da meia-noite, como se o relógio tivesse virado DJ.
A geração que antes media a noite por quantos shots aguentava, hoje mede a experiência pelo tipo de gin artesanal e pela profundidade da conversa. E BH, como sempre, acompanha. Só que agora em outro ritmo. Mais cedo. Mais leve. Mais consciente.
A vida noturna não acabou. Mas talvez ela esteja mudando de roupa, de horário, de intenção. Talvez o que esteja sumindo não seja a boemia — mas o jeito como a gente aprendeu a enxergá-la.
A pergunta que fica é: numa cidade conhecida por acender as luzes quando o resto do Brasil já está dormindo, o que acontece quando a nova geração começa a preferir a luz do dia?
Será que a nossa madrugada tem data pra acabar?