A Polícia Federal revelou em relatório final que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro, comandaram uma organização criminosa que utilizou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem política e ataques às urnas eletrônicas.
De acordo com as investigações entregues ao Supremo Tribunal Federal (STF), pai e filho foram responsáveis por definir as “diretrizes estratégicas” do esquema e os alvos das ações clandestinas, visando proteger interesses políticos e familiares, além de atacar opositores e desacreditar instituições democráticas.
* Jair Bolsonaro é apontado como “o centro decisório e o principal destinatário das vantagens ilícitas”, embora não tenha sido formalmente indiciado por já responder por organização criminosa em outro processo
* Carlos Bolsonaro é identificado como o “idealizador da inteligência paralela”, figurando “no cerne das ações delituosas” e atuando como “direcionador das informações produzidas”
* A investigação resultou no indiciamento de 36 pessoas, organizadas em seis núcleos: político, comando e alta gestão, assessoria e execução de ações clandestinas, estrutura operacional de inteligência, produção e propagação de fake news e embaraçamento da investigação
* O esquema monitorou ilegalmente 1.796 telefones entre fevereiro de 2019 e abril de 2021, totalizando 60.734 consultas irregulares através do programa israelense First Mile
* As vítimas foram classificadas em oito categorias: geral, servidores do TSE e institutos de pesquisa, Poder Judiciário, Poder Legislativo, Ministério Público, servidores públicos, proteção do núcleo político e contexto não identificado
O relatório de 1.125 páginas, assinado pelo delegado Daniel Carvalho Brasil Nascimento, da Divisão de Operações de Inteligência Cibernética da Polícia Federal, teve seu sigilo levantado por ordem do ministro Alexandre de Moraes.
Entre as ações identificadas, destacam-se dossiês produzidos pela Abin para interferir em inquéritos contra o senador Flávio Bolsonaro e o vereador Jair Renan, além de tentativas de revisar a investigação sobre a facada sofrida pelo ex-presidente em 2018, visando sua exploração política nas eleições de 2022.
Até o momento da publicação, as defesas dos envolvidos não se manifestaram sobre as acusações.