Said Santana: ‘A pobreza imposta: como o governo esmaga quem trabalha’

Said Santana: ‘A pobreza imposta: como o governo esmaga quem trabalha’

Enquanto o povo luta para sobreviver, o Estado impõe uma carga tributária que só favorece quem está no topo

Num país esculhambado pela educação, é difícil, para quem torce, ver o país prosperar. Alguns economistas fazem a analogia ao voo de uma galinha. Para quem nunca viu uma galinha voar, ou ao menos tentar voar, é um esforço tremendo, uma bateção de asas, sobe uma poeira do cão, uma verdadeira confusão para, no final, alçar um voo de poucos segundos e poucos metros e, por fim, a galinha não pousa suavemente, ela cai. É uma belíssima analogia sobre a economia brasileira. É um verdadeiro caos para a economia crescer um pouco e por pouco tempo e, no final, o pobre continua pobre, a economia quebra e o povo fica de mal a pior.

E a perseverança do pobre é a que mais me admira: ele continua acreditando que o governo vai mudar a vida de alguém. Por isso, é importante fazermos analogias com situações mais fáceis, para que todos possam entender.

Uma comparação que o governo costuma fazer quando quer tributar os bilionários é transformar dinheiro em tempo. Por exemplo: imagine que R$ 60,00 (sessenta reais) fossem o mesmo que 60 segundos, ou seja, 1 minuto. Assim, a cada 60 reais você teria o equivalente a 1 minuto. Para ter 1 hora, seriam necessários 60 minutos, ou seja, cada minuto sendo 60 reais, você precisaria ter R$ 3.600,00 para ter uma hora.

Agora olha só: nesta lógica, como o dia tem 24 horas, você precisaria de R$ 86.400,00 para ter um dia nesta analogia. Para você entender o tamanho de 1 milhão de reais, seria o equivalente a 11,5 dias. Aí o governo, para tentar criar uma explicação para tributar os bilionários, segue essa mesma linha de raciocínio. Se, para chegar em 1 milhão, demoraríamos 11 dias e meio, para alcançar 1 bilhão, demoraria 32 anos. Realmente, 1 bilhão de reais é muita grana. De 11 dias para 32 anos é uma tremenda caminhada para atingir esse nível. Por isso, ser bilionário é raro.

Já que o governo gosta de fazer essa analogia com os bilionários para tentar convencer a todos de elevar os tributos do país, vamos fazer a mesma analogia para o governo. Vamos lá.

Todos os anos, o Estado (federal, estadual e municipal) tira do bolso de cada um de nós os famosos impostos. Eu tenho certeza de que você economiza na sua conta de luz e, mesmo assim, acha que sua conta está cara. Tenho certeza de que você não deixa a luz acesa dando sopa dentro de casa, nem deixa o chuveiro dando bobeira. E, mesmo assim, a danada da conta de luz vem cara.

Outra coisa de que tenho certeza: quando você vai ao supermercado, você confere os preços de todos os produtos que coloca no carrinho, não compra nada demais, no final da compra fica um absurdo de caro e você reza para aquilo durar até o final do mês.

Tenho certeza de que você se esfola vivo no trabalho, se arrebenta, para no final do mês não ficar alegre com seu salário. Você carrega a sensação de que trabalhou muito e ganhou pouco.

Resumindo: você não gasta luz e, mesmo assim, ela vem cara; você não compra nada demais no supermercado e ele vem caro; você se arrebenta de trabalhar e acha que ganha pouco pelo tanto que trabalha. Sabe como se chama esse seu sentimento? Pois é, esse sentimento é IMPOSTO na sua vida. O próprio nome já diz: ele é imposto no seu bolso. Goste ou não, ele é imposto no seu lombo e você que trabalhe mais para pagar. Quando uma coisa é imposta a você, você é obrigado a fazer.

Como você tem esse imposto, você precisa se arrebentar de trabalhar, mesmo achando que não ganha o equivalente ao que trabalha. O imposto sobre a folha de pagamentos no Brasil é o maior do mundo. Por exemplo: se você recebe seu salário de R$ 1.500,00 na sua conta, depois de ser esfolado vivo de tanto trabalhar, sabe quanto a empresa pagou para você de fato? R$ 2.700,00. Isso mesmo: a empresa te pagou R$ 2.700,00, porém você só recebeu R$ 1.500,00. Sabe quem ficou com R$ 1.200,00? Aquele que te impõe essa obrigação. Isso nós estamos falando somente de 1 mês e de uma pessoa que recebe salário mínimo. Imagina agora o quanto o governo não arrecada impondo obrigações a cada um dos 200 milhões de brasileiros durante toda a nossa vida, do nascimento até a nossa morte?

Antes de te falar o quanto o Estado brasileiro arrecada, ou seja, cobra de todos nós, vamos voltar para a analogia. Se, para um milionário, levaria 11,5 dias, e para um bilionário, 32 anos, para o governo essa caminhada é bem mais longa.

Se, para um bilionário, seria o equivalente a 32 anos, para o governo, considerando somente um ano de arrecadação — isso mesmo, um ano de arrecadação — seriam necessários cento e onze mil anos. Pasmem! Jesus Cristo nasceu há apenas dois mil anos. E o governo brasileiro arrecada todos os anos mais de cem mil anos. E, mesmo se ele tomar tudo que o bilionário tem, que são apenas 32 anos, não faria nem cócegas perto dos cento e onze mil anos. E o que é pior: somos nós obrigados a pagar isso. Essa condição é imposta sobre nós. A galinha sofre para voar, e você para sobreviver. Você não é pobre — a pobreza que é imposta sobre você.

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Said Santana
Said Aad Aziz Alexandre Santana é economista Ph.D. Com 22 anos de experiência no mercado financeiro, é fundador e CEO do Grupo Rentabilidade Pérola Holding.

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Said Aad Aziz Alexandre Santana é economista Ph.D. Com 22 anos de experiência no mercado financeiro, é fundador e CEO do Grupo Rentabilidade Pérola Holding.
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