Quilombolas do Ceará enfrentam desafios de infraestrutura

Quilombolas do Ceará enfrentam desafios de infraestrutura

Censo 2022 revela que mais de 4.600 quilombolas no Ceará lutam por saneamento básico e demarcação de terras, com 128 comunidades aguardando certificação

O Censo Demográfico 2022 revelou que 4.609 quilombolas vivem em Territórios Quilombolas no Estado do Ceará, enfrentando significativos desafios relacionados ao saneamento básico e à demarcação de terras. Esta foi a primeira vez que o IBGE incluiu dados específicos sobre a população quilombola em sua pesquisa nacional, que identificou 1,3 milhão de quilombolas em todo o Brasil.

A pesquisa destacou importantes disparidades nas condições de vida dessa população:

* Na zona rural, onde residem 67,1% dos quilombolas cearenses, o acesso precário à água é 3,4 vezes maior (9,12%) em comparação à população urbana
* Pelo menos 128 comunidades ainda aguardam o processo de certificação da autodefinição
* Das 2.921 certidões de autodefinição quilombola emitidas pela Fundação Cultural Palmares (FCP), 58 estão localizadas no Ceará

“O censo pontuou agora que nós existimos, mas nós estamos aqui há muito tempo”, afirma Ana Eugênia, doutoranda em História Social pela UFC e natural da comunidade quilombola do Sítio Veiga, em Quixadá.

Certificação e Reconhecimento

O processo de certificação é fundamental para o acesso a serviços básicos e políticas públicas. “A certificação é de suma importância. Hoje nós temos 65 comunidades certificadas, porque o censo foi de 2020 a 22, que foi coletado, e 2023 que foi publicizado”, explica Eugênia.

Joélho Caetano, de 22 anos, liderança do Quilombo Conceição dos Caetanos em Tururu, destaca: “A partir do momento que tem esse recorte para nós, que a gente passa a compreender que, para além de uma população de um território rural, de um distrito, de um município ou de uma comunidade rural de um município, a gente é um território que não mora, mas um território que tem traços culturais”.

Desafios de Infraestrutura

O saneamento básico permanece como um dos principais desafios. No Quilombo Conceição dos Caetanos, a água encanada só chegou através de uma parceria com o Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar), embora ainda existam problemas de manutenção e qualidade do serviço.

“A questão do saneamento é um descaso em todos os territórios. Os banheiros têm na casa porque são as próprias famílias que fazem. As fossas são cavadas, são fossas de alvenaria, cavadas no próprio território”, relata Ana Eugênia.

Apesar dos diversos obstáculos, as comunidades mantêm sua resistência e preservam sua identidade cultural. Como resume Joélho Caetano: “Ser quilombola para a gente aqui é ser uma resistência. É uma resistência de um povo que muito sofreu, mas que também muito lutou, que teve muito conhecimento, que teve muitos saberes e deixou aí espalhado para as novas gerações”.

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