Entre o caos urbano e o otimismo: o que o futuro reserva para BH com o novo Plano Diretor, a expansão do metrô e o Rodoanel
Como um cidadão médio de Belo Horizonte (aquele que foi criado no Mineirão, que come pão de queijo quase diariamente, que sobe morro a pé todo dia, etc), sou o tipo de pessoa que é apaixonado pela cidade, porém realista. Eu amo viver aqui, mas admito que a cidade está longe de não ter defeitos, como a logística, ou até mesmo a estética.
Entretanto, como um eterno otimista (talvez até iludido), eu sempre tento acreditar nas boas perspectivas para a cidade no futuro. Tento imaginar, a partir do potencial da capital, como a ampliação do metrô — que deve alcançar uma capacidade para atender cerca de 270 mil pessoas por dia —, a criação do Rodoanel e as discussões já em andamento sobre o novo Plano Diretor (previsto oficialmente para 2027, mas que a Prefeitura já tenta antecipar) podem mudar a vida do belo-horizontino em cinco anos. Tudo isso, vivendo semanalmente o caos da obra eterna próxima à estação São Gabriel. O que comprova o meu otimismo quase tóxico.
O que o Plano Diretor muda na sua vida?
Talvez você nunca tenha parado para pensar o que é um Plano Diretor. Mas ele influencia diretamente a vida de quem vive na cidade. Esse plano é uma espécie de guia que define como uma cidade deve crescer e se organizar: onde pode ter prédios mais altos, onde devem estar as áreas comerciais, qual o limite da expansão urbana, entre outros pontos. É como se fosse um “jogo dos sete erros”, só que o desafio é evitar que a cidade se torne uma bagunça.
Para entender como isso nos afeta de verdade, vale comparar Paris e São Paulo. A capital francesa tem uma densidade populacional de 20.807 habitantes por km², enquanto São Paulo tem 7.528,26. Mesmo assim, o trânsito em São Paulo é muito pior. Por quê? Porque o crescimento foi feito com base em longas distâncias: moradia em um canto, trabalho em outro, lazer em outro. O resultado: horas e horas no carro ou no transporte público.
É justamente isso que o conceito de “cidade de 15 minutos” tenta combater: tudo o que você precisa deve estar a no máximo 15 minutos de distância — a pé ou de bicicleta. A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) costuma citar Copacabana, no Rio de Janeiro, como o melhor exemplo de bairro brasileiro nesse modelo: alta densidade populacional, calçadas largas, comércio local vibrante, transporte acessível e vida 24 horas nas ruas. Ou seja, mais qualidade de vida, segurança e oportunidade econômica.
Por outro lado, cidades como Brasília mostram um modelo oposto, com zonas separadas e dependência quase total do carro. Em BH, isso se traduz no fluxo diário: pela manhã, todos vão em direção ao Centro; no fim da tarde, todo mundo volta para os bairros mais afastados. Resultado: trânsito travado, tempo perdido e custo de vida alto.
Morar perto do trabalho ou se afastar ainda mais?
Hoje, quem mora perto do Centro de BH sente no bolso. Uma pesquisa do QuintoAndar mostrou que, em fevereiro, o valor do metro quadrado para aluguel passou dos R$ 40 pela primeira vez, colocando a cidade como a capital com o aluguel mais caro do Brasil. Nos últimos 12 meses, o aumento foi de 16,87%. O bairro de Heliópolis, por exemplo, teve um aumento de 40,6%. E a demanda por imóveis pequenos (de um quarto) é a maior, com preço médio de R$ 58,28/m². Ou seja, morar perto virou luxo — e o Plano Diretor tem tudo a ver com isso.
Se ele for bem feito, pode incentivar moradias mais acessíveis nas áreas centrais, promover a mistura de usos (trabalho, casa, comércio no mesmo bairro) e dar mais autonomia para o cidadão. Se for mal planejado, pode empurrar mais gente ainda para a periferia, o que só vai aumentar o tempo no trânsito e o custo de vida.
Rodoanel: solução ou problema?
O rodoanel é uma estrada que contorna a cidade, criando uma espécie de anel viário para desviar o trânsito pesado e de passagem do centro urbano. Em São Paulo, o rodoanel ajudou a tirar boa parte dos caminhões e do trânsito pesado do centro da cidade, o que aliviou os congestionamentos e melhorou a qualidade de vida das pessoas que moram por ali. Além disso, facilitou o transporte de mercadorias, impulsionando o desenvolvimento econômico da região.
Para Belo Horizonte e sua região metropolitana, a construção do rodoanel promete um efeito parecido. A ideia é que, ao desviar o trânsito de passagem, o rodoanel diminua o tráfego (principalmente de caminhões) nas principais avenidas da capital e das cidades vizinhas, tornando o deslocamento diário mais rápido e menos estressante para quem depende do carro ou do ônibus para trabalhar, estudar ou fazer compras.
Mas há um “porém”. Se não houver um bom planejamento urbano acompanhando a obra, o Rodoanel pode estimular um crescimento desordenado, incentivando a ocupação de áreas ainda mais afastadas, sem infraestrutura adequada — o que já aconteceu em outras regiões do Brasil. Ou seja, tudo depende da capacidade dos responsáveis fazerem um bom trabalho. Pode ser o empurrão que falta para BH se tornar mais eficiente — ou mais um capítulo do “crescimento desgovernado” que a gente já conhece.
Eu e meu otimismo esperamos que essas questões venham para auxiliar o dia a dia do mineiro, e transformar a nossa “roça grande” em uma cidade que faz jus ao seu potencial.