É preciso poder parar e achar dentro de nós um lugar de conforto, saber que as coisas vão voltar a ficar bem e que às vezes as adversidades só nos fazem crescer
Vivemos num Mundo onde quase tudo parece estar sob o nosso controle. Os aparelhos eletrônicos, os celulares e as conexões que achamos que temos com o “universo“ nos dão uma certa ilusão de controle. Acreditamos que isso nos torna mais fortes e poderosos. Será mesmo?
Quando algo desta tecnologia deixa de funcionar, ou quando o inesperado irrompe, a noção de infalibilidade e impotência ressurge de uma forma muito forte e avassaladora.
Esta foi uma das experiências que eu vivi há pouco tempo em Madrid. Assim que descemos do avião, houve um apagão que atingiu a Espanha e Portugal, deixando todos no aeroporto nervosos e ansiosos. Tivemos que esperar cerca de três horas pela bagagem. O cansaço deixou as pessoas irritadas, a polidez já não existia.
Depois, no tráfego para o hotel testemunhei o caos nas ruas, todos gritando e buzinando.
A sensação de fazer parte de um filme caótico no qual as leis eram outras começava a se impor, seguido pelos celulares que deixaram de funcionar. Os cartões de crédito não eram mais válidos, as lojas fecharam, assim como os restaurantes e bares. Uma sensação de impotência tomou conta.
Junto com minha amiga entendi que era um novo momento. Talvez totalmente diferente, num lugar que parecia inóspito. O que era para ser uma viagem de lazer, naquele momento tinha que ser um contato com nossos recursos internos. Passei a buscar um lugar que eu me sentisse mais calma (cada um deve saber o seu, o meu é rezar). Finalmente chegamos ao hotel.
Era uma Madrid sombria e vazia. Um cenário estranho. Pensei o quanto não temos as certezas e não sabemos das coisas que podem ocorrer. Mas é preciso poder parar e achar dentro de nós um lugar de conforto, saber que as coisas vão voltar a ficar bem, que às vezes as adversidades só nos fazem crescer, e ver que temos recursos e condições para sermos mais resilientes, mesmo quando o mundo não está ao nosso controle e os celulares deixam de funcionar.
O que importa é que nós podemos funcionar de diferentes formas e modos. A isto chamamos plasticidade psíquica e emocional. Só quando saímos do conhecido é que podemos perceber que temos outras formas de lidar com o mundo.