O bairro Concórdia, localizado na Região Nordeste de Belo Horizonte, destaca-se como um dos principais redutos da cultura afro-brasileira na capital mineira. Surgido em 1928, o bairro se transformou em um importante centro de preservação de práticas e saberes africanos, abrigando a maior concentração de espaços dedicados à religiosidade afro-brasileira na cidade.
A história do Concórdia está intrinsecamente ligada ao processo de desenvolvimento urbano de Belo Horizonte. O bairro nasceu da necessidade de realocar pessoas que foram expulsas da região central da cidade, principalmente a população negra do antigo Curral Del Rey, devido à gentrificação e às dinâmicas de desenvolvimento da nova capital mineira.
* O nome “Concórdia” surgiu a partir dos novos moradores que “concordaram” em se mudar para a região, conforme relatos históricos
* Em 1928, foi estabelecida a Vila Operária Concórdia para receber a população removida da área central
* A maioria dos habitantes era composta por trabalhadores negros que trouxeram consigo suas tradições e práticas culturais
* O bairro concentra numerosos terreiros de religiões de matriz africana
* Abriga importantes guardas de Congado, como a Guarda São Jorge de Nossa Senhora do Rosário, presente há mais de 80 anos
* É ponto de partida de diversos blocos carnavalescos que celebram a ancestralidade africana
A pesquisadora Cyntia Braúlio, mestra em Arquitetura e doutoranda em Geografia pela UFMG, explica: “Os movimentos de ocupações urbanas estão relacionados à ocupação dos bairros. O Curral Del Rey era composto em sua maioria por pessoas negras, e 20 anos depois, com as dinâmicas das especulações imobiliárias e desenvolvimento da cidade, a área central é demandada e a polícia urbana da época expede novos decretos para expulsar e remover aquelas pessoas dessa área”.
A tradição familiar é um elemento fundamental na preservação da cultura local. Kelma Gizele da Cruz Conceição, de 51 anos, representa essa continuidade: “As pessoas estão vendo esse bairro como bairro negro, onde é cultuado com mais fervor as rezas e todas as manifestações que remetem a negritude, o bairro está se mostrando com essa essência, algo plantado de muito tempo, uma riqueza dentro do bairro”.
Isabel Casimira, 61 anos, membro da Guarda de Congado 13 de maio e do Terreiro de Umbanda 13 de maio, reforça a importância histórica do local: “A minha avó nasceu no bairro Angola em Betim, e as pessoas desceram para BH para trabalhar e ficaram no bairro Barroca. A negrada foi convidada a sair da região e concordaram em vir para a região do Concórdia”.
O Concórdia permanece como um símbolo vivo da resistência e preservação da cultura afro-brasileira em Belo Horizonte, mantendo vivas as tradições e práticas ancestrais através das gerações.