Na Sexta-feira Santa, a cidade histórica de Sabará, localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi palco de uma das suas mais antigas manifestações de fé: a Procissão da Penitência. Centenas de fiéis se reuniram no centro histórico ainda na madrugada para participar da tradicional celebração católica.
O evento teve início às 4h da manhã, com uma caminhada de três quilômetros até a Capela do Bom Jesus, situada no alto do Morro da Cruz. O som característico das matracas, instrumento tradicional deste período litúrgico, ecoou pelas ruas de pedra de Sabará, substituindo os sinos que permanecem em silêncio durante a Semana Santa.
Entre os protagonistas desta tradição está Chiquinho Santos, de 40 anos, matraqueiro e sineiro que mantém vivo um legado familiar. “Graças a Deus, herdei do meu pai uma profissão que não pode acabar. É uma tradição. Então, na Sexta-feira Santa, a permissão da igreja e da doutrina católica é somente soar da matraca. Soar fúnebre, triste, e ao mesmo tempo um despertador, que acorda os fiéis de verdade”, explicou.
A tradição das matracas em Sabará passa de geração em geração na família Santos. Chiquinho, que herdou o ofício de seu avô Modestinho Zé dos Santos e de seu pai, já prepara seu filho Tiago, de 17 anos, para dar continuidade à tradição. “Ano que vem ele tá aqui”, afirma com orgulho.
A procissão também é marcada por histórias de fé e gratidão. Nair de Fátima Ferreira Gonçalves, doméstica de 57 anos, participou da caminhada em agradecimento à sua recuperação de saúde. “Vim agradecer por tudo e por tudo que Deus já nos abençoou. De eu ter sido curada, porque eu estava com o colesterol muito alto, gordura no sangue e no coração. Devido à minha fé, me sinto curada agora”, compartilhou emocionada.
A Procissão da Penitência em Sabará representa não apenas uma celebração religiosa, mas também a preservação de uma tradição centenária que une fé, cultura e história da cidade mineira.