A Polícia Federal está próxima de concluir, em abril, a investigação sobre uma alegada estrutura paralela na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro. O caso, que inicialmente deveria ter sido finalizado no fim de 2023, teve seu prazo estendido após descobertas de novas ferramentas de espionagem.
A investigação revelou o uso de diversos programas de monitoramento, incluindo o FirstMile. Este software israelense permitia o rastreamento da localização de alvos específicos através de celulares, sem autorização judicial.
* O programa FirstMile foi utilizado para monitorar políticos, jornalistas, advogados e opositores do governo Bolsonaro
* O Cobalt Strike, ferramenta especializada em simulação de invasões, foi empregado para espionar autoridades paraguaias durante negociações sobre tarifas da usina de Itaipu
* O LTE Sniffer, programa de código aberto, foi considerado para possíveis varreduras em embaixadas, funcionando como um “IMSI Catcher” para monitorar redes celulares
O ex-diretor da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) é um dos principais alvos da investigação. Segundo relatório da PF, sob seu comando, parte da agência teria sido “aparelhada” para tentar manter Bolsonaro no poder. Documentos encontrados em seu e-mail indicam orientações ao então presidente para atacar a credibilidade das urnas e adotar postura mais combativa contra “o sistema”.
Em seu depoimento, Ramagem confirmou que costumava elaborar textos “para comunicação de fatos de possível interesse” de Bolsonaro, mas alegou não se recordar se as mensagens foram efetivamente enviadas. O deputado nega tanto sua participação em tentativas golpistas quanto a existência de uma estrutura paralela na Abin.
O caso ganhou dimensões internacionais quando o governo paraguaio convocou o embaixador brasileiro para esclarecimentos sobre a suposta espionagem. O Itamaraty informou que a ação de inteligência foi autorizada em junho de 2022, durante o governo Bolsonaro, e suspensa em março de 2023, já na gestão Lula.