Afinal, o Oscar de ‘Orfeu Negro’ foi do Brasil ou da França?
O filme Orfeu Negro se passa no Rio de Janeiro, é falado em português e tem trilha sonora de Tom Jobim, Luiz Bonfá, Vinicius de Moraes e Antônio Maria. A produção, no entanto, não é exclusivamente brasileira: trata-se de uma coprodução ítalo-franco-brasileira.
Até a vitória de Ainda Estou Aqui no Oscar deste domingo (3), o Brasil nunca havia recebido oficialmente uma estatueta da Academia. Mas Orfeu Negro, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1960 (atualmente chamado de Melhor Filme Internacional), ainda gera debate sobre sua nacionalidade.
O prêmio foi entregue à França, pois a principal produtora do filme foi a francesa Dispat Films, que teve participação majoritária em relação à italiana Gemma Cinematografica e à brasileira Tupan Filmes. O produtor responsável, Sacha Gordine, era francês de origem russa e foi o delegado do projeto, conforme indicam os créditos do longa.
“O filme foi rodado inteiramente no Rio de Janeiro, com quase todo o elenco brasileiro, falado em português, com música brasileira e, sobretudo, inspirado em uma peça de Vinicius de Moraes, um brasileiro bem conhecido”, explica Cao Quintas, produtor de cinema e professor da ESPM.
Apesar disso, em coproduções, o país majoritário costuma definir a condução do projeto. No caso de Orfeu Negro, coube à França essa responsabilidade, o que garantiu ao país a posse oficial da estatueta.
O longa foi um enorme sucesso, conquistando também a Palma de Ouro em Cannes e o Globo de Ouro. Seu impacto transcendeu gerações, sendo citado por personalidades como Barack Obama e Jean-Michel Basquiat.
Mas a dúvida permanece: esse Oscar deveria ser considerado do Brasil?