Um caminhão destruiu o bloqueio montado pelos indígenas Munduruku na BR-230, em Itaituba, sudoeste do Pará, neste sábado (29). O incidente não resultou em feridos, sendo este o mais recente episódio de tensão durante o protesto iniciado na última terça-feira (25).
Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o caminhoneiro alegou que o veículo apresentou “falhas no sistema de freio”. Após ultrapassar a primeira barreira, o condutor conseguiu parar antes do segundo ponto de bloqueio e não prosseguiu viagem.
Cronologia dos confrontos durante o protesto:
* Na quinta-feira (27), às 18h, a via foi liberada e os agentes da PRF deixaram o local, com os indígenas permanecendo acampados às margens da rodovia
* Às 20h do mesmo dia, ocorreu o primeiro ataque, quando um caminhoneiro efetuou três disparos contra o acampamento
* Uma hora depois, às 21h, um segundo caminhoneiro realizou um disparo contra os manifestantes
* Na manhã seguinte, às 6h, quando os indígenas retomaram a interdição, carretas forçaram passagem pelo bloqueio, destruindo equipamentos de alimentação e abrigo
O Ministério Público Federal (MPF) acompanha o caso e recorreu contra a decisão judicial que determinou a reintegração de posse da rodovia. A instituição argumenta que a ordem não considera a necessidade de um “diálogo interétnico e intercultural previsto em resoluções do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)”.
A manifestação dos Munduruku, que ocorre no km 1104 da BR-230, tem como objetivo principal pedir a revogação da Lei 14.701/2023, conhecida como Marco Temporal. Esta legislação estabelece que os povos indígenas só têm direito às terras que ocupavam em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição.
“O protesto é pacífico e inclui mulheres, gestantes, idosos e crianças. Os manifestantes relatam terem sido ameaçados e agredidos por motoristas, sem intervenção das forças de segurança”, informou o MPF em comunicado.
Uma audiência de conciliação foi marcada pela Justiça para o dia três de abril, reunindo manifestantes e representantes da concessionária da rodovia, que solicitou judicialmente a desobstrução da pista. A PRF informou que não há rota alternativa viável devido às fortes chuvas na região.