Quatro meses após a queda do ditador Bashar al-Assad, a Síria dá um importante passo em sua transição política com a posse de um novo gabinete ministerial. O presidente interino Ahmad al-Sharaa empossou neste sábado (29/3) um governo mais diverso e inclusivo, sinalizando uma mudança significativa na condução do país.
O novo gabinete, composto por 23 ministros, representa um marco na reconstrução da Síria após 14 anos de guerra civil, destacando-se pela inclusão de diferentes grupos étnicos e religiosos, incluindo muçulmanos sunitas, cristãos, alauitas e drusos.
* Al-Sharaa manteve aliados próximos em posições estratégicas: Assaad al-Shaibani continua no Exterior, Murhaf Abu Qasra na Defesa, e Anas Khattab, ex-chefe de inteligência, assume o Ministério do Interior
* Uma conquista histórica para a representatividade feminina: Hind Kabawat, advogada cristã e opositora do regime de Assad, foi nomeada ministra de Assuntos Sociais e Trabalho
* Yarub Badr, um alauita, assume o Ministério dos Transportes, enquanto Amgad Badr, da minoria drusa, comandará a Agricultura
* O curdo Mohammed Terko foi designado para a pasta da Educação, e Raed al-Saleh, ex-líder dos capacetes brancos, será ministro de Emergências
O governo de transição tem mandato previsto de cinco anos, conforme estabelecido pela Constituição provisória editada em março por al-Sharaa. O presidente interino argumenta que este período é necessário para criar a infraestrutura adequada à realização de eleições democráticas.
Apesar dos avanços na formação de um governo mais inclusivo, ainda existem desafios significativos. O grupo rebelde curdo Forças Democráticas Sírias (SDF), que controla o nordeste do país e conta com apoio dos Estados Unidos, não possui representantes no gabinete. No entanto, al-Sharaa e o comandante das SDF, Mazloum Abdi, já assinaram um acordo de cessar-fogo que prevê a integração dos combatentes ao Exército sírio.
A formação deste novo governo também visa convencer a comunidade internacional sobre o compromisso da Síria com a democratização e estabilidade. Um dos principais objetivos é a suspensão das sanções econômicas impostas durante o regime Assad, considerando que, segundo as Nações Unidas, 90% dos sírios vivem abaixo da linha de pobreza e milhões enfrentam escassez de alimentos.
Contudo, um recente massacre contra centenas de alauitas no início de março levantou questionamentos sobre a capacidade do novo governo de garantir a estabilidade e segurança necessárias para a reconstrução do país.