Enio Fonseca: ‘Estocando energia. Reflexões sobre um tema tormentoso’

Enio Fonseca: ‘Estocando energia. Reflexões sobre um tema tormentoso’

O Brasil precisa ampliar a capacidade de armazenamento de energia renovável para garantir o fornecimento estável

“Mas nós ainda não conseguimos tecnologia para estocar vento”. A frase que ficou famosa foi dita pela ex-presidente Dilma Rousseff em setembro de 2015, durante um evento na ONU – Organização das Nações Unidas, em Nova York, sobre mudanças climáticas. Na ocasião, Dilma falava sobre a intermitência das fontes renováveis, como a energia eólica e solar, e a necessidade de desenvolver tecnologias para armazenar essa energia.

A expressão “estocar vento” virou meme e ganhou as redes sociais, mas o conceito por trás da fala de Dilma não estava errado.

Armazenamento de energia é o processo de guardar a energia produzida para usar posteriormente. É um elemento fundamental para a transição para fontes de energia renováveis, que possuem restrições operacionais, dependendo dos ventos e da presença do sol, garantindo um suprimento estável.

O armazenamento de forma conceitual geral apresenta as seguintes características:

* Armazena o excedente de energia produzido em períodos de alta geração

* Permite usar a energia quando a demanda aumenta

* Garante um suprimento estável de energia

* Equilibra a oferta e a demanda de energia

* Estabiliza a rede elétrica

Existem sete principais tipos de armazenamento de energia, cada um com suas particularidades e aplicabilidades distintas. Abaixo, veja os principais.

1. Bombeamento hidrelétrico

2. Ar comprimido

3. Armazenamento térmico

4. Supercondensador

5. Volantes de inércia

6. Pilhas de combustível de hidrogênio

7. Baterias

As baterias armazenam energia em compostos químicos, como pilhas de chumbo-ácido, íon de lítio ou níquel-cádmio. Elas oferecem rápida resposta, facilidade de instalação e benefícios para ativos renováveis.

Os sistemas dos reservatórios e barragens foram construídos para armazenar água, liberando sua energia potencial para diferentes finalidades. Eles são considerados baterias hidráulicas e precisam ser retomados no Brasil.

A bateria química é uma solução prática para o armazenamento de energia elétrica, mas seu uso é limitado devido à capacidade reduzida e ao custo relativamente elevado.

Os consumidores brasileiros deverão investir nos próximos cinco anos até R$ 22,5 bilhões em sistemas de armazenamento de energia, por meio de baterias. Até 2024, o mercado brasileiro já aportou pelo menos R$ 5 bilhões em sistemas.

O montante deve crescer gradativamente, adicionando R$ 2,3 bilhões em 2025 e subindo até o pico de R$ 5,7 bilhões em 2030. Os valores consideram o mercado de armazenamento atrás do medidor (interno), microrredes e sistemas não conectados à rede.

Dados da Bloomberg apontam que 80,5 gigawatts (GW) em sistemas com baterias são previstos para este ano, um crescimento de 20% frente aos 66,6 GW de 2024 em todo o mundo.

A capacidade instalada de armazenamento de energia por meio de baterias no planeta deve chegar a 759 GW até 2030, com a expansão liderada por três países: China, Estados Unidos e Alemanha.

O levantamento destaca que essas nações contam com incentivos governamentais por meio de subsídios, créditos fiscais, entre outras medidas. Segundo a Greener, no Brasil, a carga tributária sobre sistemas com bateria pode chegar a 79%.

O ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, disse que, até o meio do ano, deve ser realizado o primeiro leilão para contratar sistemas de baterias que permitam armazenar a energia gerada por essas fontes intermitentes.

Uma robusta análise sobre este tema de armazenamento faz parte do livro Climate Uncertainty and Risk, Rethinking Our Response, escrito por Judith A. Curry e publicado na Inglaterra e nos Estados Unidos em 2023.

O autor discorre sobre vários temas, dentre os quais destacamos:
“Os problemas de intermitência associados à energia eólica e solar podem ser resolvidos por meio de baterias?”. A opinião dele é: “Possivelmente, mas a um grande custo e complexidade adicional”.

O Brasil, além de continuar investindo em fontes alternativas renováveis, precisa de uma grande capacidade de armazenamento das energias intermitentes, em especial a solar e eólica, para atender o crescimento do País.

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Enio Fonseca Perfilok
Enio Fonseca
CEO da Pack of Wolves , foi Sup. do Ibama em MG, sup. Gestao Ambiental Cemig ,Conselheiro do Copam, Conselheiro do FMASE, Diretor de MA e RI na SAM Metais, Diretor da ALAGRO.

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