As famosas “zonas azuis”, regiões conhecidas por concentrar um número expressivo de pessoas centenárias, podem não ser tão especiais quanto se pensava. Segundo pesquisa conduzida por Saul Justin Newman, da University College London, a maioria dos dados sobre idades extremamente avançadas apresenta falhas significativas.
O estudo, ainda em processo de revisão por pares, analisou dados sobre centenários e supercentenários em diversos países, incluindo Estados Unidos, Itália, Inglaterra, França e Japão. Surpreendentemente, Newman descobriu que estas pessoas supostamente longevas tendem a vir de áreas com problemas de saúde, altos níveis de pobreza e registros deficientes de dados.
* No Japão, um caso notório envolveu Sogen Kato, considerado a pessoa mais velha do país até a descoberta de seus restos mumificados em 2010. Uma investigação posterior revelou que 82% dos centenários japoneses – aproximadamente 230 mil pessoas – estavam desaparecidos ou mortos.
* Na Costa Rica, especificamente na zona azul de Nicoya, descobriu-se em 2008 que 42% das pessoas com mais de 99 anos haviam informado idade incorreta no censo de 2000. Após correções, a expectativa de vida na região caiu drasticamente.
* Na Grécia, dados de 2012 indicaram que 72% dos centenários eram falsos ou já haviam falecido.
O termo “zonas azuis” surgiu em 2004, inicialmente referindo-se à ilha italiana da Sardenha. Dan Buettner, repórter da National Geographic, popularizou o conceito em 2005, incluindo outras regiões como Okinawa (Japão) e Loma Linda (Califórnia). Posteriormente, a Península de Nicoya (Costa Rica) e a ilha grega de Icária foram adicionadas à lista.
A pesquisa de Newman gerou controvérsia na comunidade científica. Diversos pesquisadores publicaram uma nota de repúdio, classificando seu trabalho como “ética e academicamente irresponsável”. Eles argumentam que as idades dos supercentenários nas zonas azuis foram meticulosamente verificadas através de registros históricos e censos do século XIX.
Em resposta às críticas, Newman argumenta que registros consistentes não necessariamente significam registros precisos, especialmente se baseados em certidões de nascimento incorretas. Como alternativa para verificação de idade, Steve Horvath, da Universidade da Califórnia, desenvolveu uma técnica chamada relógio do DNA, capaz de detectar casos de fraude grave em alegações de longevidade excepcional.
A investigação levanta questões importantes sobre a autenticidade dos dados de longevidade extrema e sugere que o fenômeno das “zonas azuis” pode ser mais complexo do que inicialmente se pensava.